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Mostrando postagens de outubro, 2024

A verdade como ficção: um olhar filosófico e lacaniano

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Este texto convida à reflexão sobre o conceito de verdade, articulando brevemente as filosofias ocidentais, orientais e africanas com a teoria lacaniana. A verdade é o tema central que permeia as diversas correntes de pensamento, moldando, quase inevitavelmente, nossa compreensão sobre a vida e a existência. O que realmente entendemos por verdade? Quando mencionamos a palavra "verdade", conseguimos transmitir o mesmo sentimento a todas as pessoas? A verdade é algo que pode ser verbalizado ou é uma dimensão que reside no inconsciente? Ela realmente existe? Neste convite à reflexão, exploraremos a verdade através de elementos da mitologia grega e de uma breve análise das principais abordagens filosóficas, utilizando o legado de Jacques Lacan como fio condutor para entender suas implicações. Comecemos nossa análise na matriz da filosofia ocidental, que se enraíza na Grécia Antiga. Este ponto de partida é crucial, especialmente considerando que, por meio da exploração...

Quem vem primeiro, pensamentos ou emoções? De Nietzsche à psicanálise

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A pergunta central é: quem vem primeiro, pensamento ou emoções? A relação entre pensamento e emoção é um tema que tem sido explorado intensamente por filósofos e psicanalistas ao longo da história. Friedrich Nietzsche e Sigmund Freud, dois dos pensadores mais influentes, abordaram essa questão sob perspectivas distintas, mas ambos reconheceram a importância central das emoções na experiência de criar a vida. Nietzsche, em sua obra "Além do Bem e do Mal", afirma que "nossos pensamentos são as sombras de nossos sentimentos, sempre mais obscuros, mais vazios, mais simples que estes". Essa citação sugere que os pensamentos são meras representações pálidas das emoções, que são intrinsecamente mais profundas e complexas. Para Nietzsche, as emoções são a fonte da criatividade e da vida, enquanto os pensamentos são tentativas de capturar e controlar essas emoções. Ele vê os pensamentos como "rastros pálidos que giram em torno do fogo dos sentimentos", uma metáfora...

Da condenação à criação: a busca infatigável por sentido em um mundo vazio de essência

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            Como podemos criar nossa identidade livremente enquanto somos tão influenciados pelo desejo do Outro? S em certezas transcendentais , como encontramos sentido autêntico sem depender da validação externa? De que forma transformamos o vazio existencial inicial em uma vida rica e única, evitando a mera conformidade? Como usamos a liberdade para esculpir uma existência significativa, aceitando nossa falta interna e a impossibilidade ilusória de completude ?       "Somos condenados a ser livres; porque, uma vez lançados no mundo, somos responsáveis por tudo o que fazemos." Esta afirmação de Jean-Paul Sartre enfatiza o ponto central do existencialismo , onde a liberdade não é meramente uma 'bênção', mas uma demanda inescapável para a criação de nós mesmos. Na ausência de uma identidade configurada ao nascimento, somos impelidos a construir a nossa através de um contínuo processo identificatório. Contudo, conforme Jacques Laca...

Sobre o Seminário IV: A relação de objeto (1956-1957) de Jacques Lacan

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  Neste seminário, Lacan desenvolve suas ideias sobre a relação do sujeito com os objetos, e é essa relação que vamos explorar hoje. A imagem de capa do seminário é uma pintura de Goya que ilustra o mito de Cronos devorando seus filhos, representando um canibalismo oposto à ideia freudiana de Totem e Tabu. Essa imagem é um reflexo da angústia humana e da crueldade da guerra, mostrando como a razão adormecida gera monstros. A pintura de Goya destaca a luta pela liberdade e a representação da loucura, e é um convite à reflexão sobre a condição humana e a formação da identidade. A criança realiza uma grande descoberta ao perceber que o falo não pertence a ninguém e que sua propriedade é fundamental nas trocas. Essa percepção é crucial para entender a dinâmica familiar e simbólica na formação da identidade. A formação da identidade é um processo que envolve a interação entre o sujeito e os objetos, e a relação entre o sujeito e o Outro. A criança aprende a se relacionar com os objetos ...

Sobre o Seminário III: As Psicoses (1955-1956) de Jacques Lacan

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O Seminário III: As Psicoses, de Jacques Lacan, se destaca como um espaço de reflexão profunda sobre as complexidades da psique humana. Neste seminário, a psicose é explorada não apenas como uma condição clínica, mas como uma janela para a compreensão da subjetividade.  O que significa realmente "ser psicótico"?  Como podemos entender essa experiência a partir da perspectiva lacaniana?  Vamos explorar juntos. Lacan nos apresenta a psicose como uma estrutura distinta da neurose. Ele afirma que "a psicose é uma forma de resposta à falta do Nome-do-Pai". Mas o que isso realmente implica? A ausência da função paterna não é apenas uma questão familiar; é uma questão de estrutura simbólica. Como essa falta impacta a vida de um indivíduo? Como podemos reconhecer os sinais dessa ausência em nosso cotidiano? O conceito do Nome-do-Pai é central para a compreensão da psicose. Lacan diz que "o Nome-do-Pai é o que introduz a lei no desejo". Aqui, somos levados a reflet...

FINAIS DE SEMANA - Poema

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Finais de semanas que se vão, mas trazem novos princípios, Encerrando tensões da rotina, dos dias tão intensos, No nosso laço, o desejo de viver se faz paixão, O "final de semana" é amor, é pura conexão. Cada minuto ao seu lado, restaura o que há de confiança, Nossas intimidades, incensos, comidinhas de memórias da infância, Filmes encantadores, o sabor das frutas, a delícia do seu corpo, Sempre quando o final se encerra, sinto renascer em ti meu porto. E… uma saudade invade, do que acabamos de viver, Um desejo ardente de tudo isso renascer. Quero a vida ao seu lado, cada instante disso é um reforço, Mesmo com angústia da nova semana, há gratidão desse percurso. Imensamente há esperança de nós dois, sempre mais a florescer, Meu benzinho, te amo! Meu amor, é com você e assim que quero viver.

Sobre o Seminário II: O Eu na Teoria de Freud e na Técnica da Psicanálise (1954-1955)

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O Seminário II: O Eu na Teoria de Freud e na Técnica da Psicanálise, de Jacques Lacan, se destaca como um espaço de reflexão profunda sobre a construção do "Eu" e sua relação intrínseca com o Outro.  Lacan não se contenta em apenas revisitar as teorias de Freud. Ele vai além, provocando-nos a questionar as próprias bases da nossa realidade. Ele usa uma linguagem rica e poética, repleta de metáforas vívidas que ecoam as complexidades da experiência humana contemporânea. Assim, propõe uma análise que não se limita ao superficial, mas que busca penetrar nas camadas mais profundas de nossa psique. Imagine, se puder, o "Eu" não como uma entidade fixa e imutável, mas sim como uma construção – uma forma que se molda constantemente nas interações com o Outro. Pensem na imagem de um espelho: o reflexo do "Eu" é uma criação das percepções e interações que temos com as pessoas ao nosso redor. Num mundo contemporâneo, repleto de interações sociais e digitais, essa met...

Sobre o Seminário I: Os Escritos Técnicos de Freud (1953-1954) de Jacques Lacan

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O Seminário I: Os Escritos Técnicos de Freud, de Jacques Lacan, se apresenta como uma imersão profunda na psicanálise, explorando as nuances da técnica freudiana.  Este seminário não é apenas um texto acadêmico e de base teórica dos estudos aprofundados em psicanálise; é uma imersão profunda nas nuances da psicanálise que, ao longo do tempo, revela reflexões que reverberam em nossa realidade contemporânea e na atualização da clínica que realizamos hoje. Como muitos de vocês sabem, dado que é algo bastante difundido, Lacan utiliza uma linguagem rica em metáforas e comparações. Isso nos permite acessar uma expressão poética das complexidades do inconsciente e suas intrincadas relações com a linguagem. Agora, eu os convido a refletir sobre um conceito central que ele apresenta: a ideia de que o inconsciente é estruturado como uma linguagem. Como essa proposição desafiadora nos faz repensar a noção tradicional do inconsciente como um espaço caótico? Lacan sugere, ao contrário, que esse...

Quantos e quais são os Seminários de Jacques Lacan e o que cada um expressa?

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 Os Seminários de Jacques Lacan são uma série de textos e palestras que ele apresentou ao longo de sua carreira. No total, são 27 seminários frequentemente referidos por números e títulos. No total, 14 seminários  ainda não foram publicados.         Eles são um dos marcos mais significativos da psicanálise contemporânea e foram realizados entre 1952 e 1980 em Paris. Esses seminários não apenas moldaram a prática psicanalítica, mas também influenciaram diversas áreas do conhecimento, como filosofia, literatura e teoria crítica.      Jacques Lacan, psicanalista e psiquiatra francês, é amplamente reconhecido por suas contribuições inovadoras à psicanálise. Durante quase três décadas, ele conduziu seminários anuais que se tornaram fundamentais para a compreensão de sua abordagem única e complexa. Esses encontros não eram meras aulas; eram verdadeiros espaços de reflexão e debate, onde Lacan explorava as nuances da psicanálise, da linguagem e...

Saber que acaba te causa tranquilidade ou desajustes? A invenção do fim

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Na contemporaneidade, nos deparamos com uma contradição fundamental: a busca incessante por um absoluto eterno e imutável que se opõe à vulnerabilidade e elasticidade ontológica do ser. Nietzsche, em sua crítica à moralidade tradicional, já vislumbrava a fragilidade desse ideal opressor, acreditando que a vontade de poder poderia, eventualmente, libertar o indivíduo das amarras de um ideal que se mostrava cada vez mais incoerente. Contudo, ao olharmos para o presente, percebemos que até mesmo a morte, uma das certezas da existência, parece ter perdido seu sentido lógico, transformando-se em um evento que evitamos a todo custo. Essa negação da morte, como Freud nos alerta, é uma defesa psíquica que nos impede de vivenciar a vida em sua plenitude. Freud, ao explorar a psique humana, nos alertou sobre a repressão dos desejos e a negação da morte. Em sua obra, ele argumenta que a civilização exige de nós uma eterna busca por significados que, muitas vezes, nos afastam dos pequenos prazeres...

"Mania de Você" à luz da psicanálise

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A expressão "Mania de Você", que também é o título de uma novela da rede Globo, pode ser abordada sob múltiplos ângulos, especialmente quando se considera a relação entre a mania em si e a violência que isso pode evocar no imaginário coletivo.  A escolha do título "Mania de Você" sugere, em um primeiro nível de leitura sem crítica, uma paixão avassaladora que, embora possa parecer romântica, carrega consigo a possibilidade de um amor obsessivo. Na psicanálise, especialmente nas teorias de Freud e Lacan, a mania é frequentemente associada a uma intensidade emocional que pode transbordar em comportamentos extremos.  Na psicanálise, a mania é como um daqueles convidados indesejados em uma festa: Freud a vê como o oposto da depressão, um estado emocional elevado que tenta disfarçar os conflitos internos. Para o pai da psicanálise, a mania é uma defesa que permite ao indivíduo evitar encarar sentimentos dolorosos, como um truque de mágica que faz a tristeza desaparecer m...

Entre tesouras e machismos (crônica)

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Na barbearia, um templo de masculinidades emaranhadas, o ambiente é recheado com o aroma penetrante da loção pós-barba, misturando-se com o desabor de papos que ainda reverbera a auto afinação masculina das conversas de bares, como ecos de alguma sentido de esperança que um dia esses pensamentos se calarão. As cadeiras de couro, desgastadas e brilhantes pelo tempo e pelas histórias que carregam, são testemunhas de rituais que transcendem a simples aparagem de cabelos. Aqui, onde os espelhos refletem não apenas rostos, mas anseios e incertezas, eu me sento, um observador silencioso em meio a um frenesi de masculinidades explícitas e escondidas nas linguagens verbais e não verbais. A barbearia talvez seja um microscosmo social: os homens esperam suas vezes, alguns com o olhar profundo na tela do celular, outros metidos em um jogo de futebol enquanto esperam, mas todos, de alguma maneira, prontos para expor suas imagens em fragmentos. As conversas começam de forma leve, despretensiosa, co...

Olhar e imagem: reflexões em um espelho embaçado (crônica)

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Saí do banho, a água escorrendo pelo corpo como um abraço quente que me confortava. Em um gesto automático, pulei para a frente do espelho, o vapor do calor me envolvendo. E foi ali, naquele momento efêmero de privacidade, que me perdi em um hipnotizante embate com meu próprio olhar. O espelho embaçado se tornava uma tela onde eu começava a projetar tudo aquilo que, para muitos, seria a imagem de um Deus amoroso. Mas, no meu universo ateísta, essa divindade estava longe de ser um ser superior; era uma mera construção social, uma projeção de nossas esperanças e anseios. Nas tradições filosóficas helenísticas, como o estoicismo e o epicurismo, descortinava-se a importância do ser humano como autor de sua própria felicidade. Não precisávamos de um Deus que manipulasse nossas vidas ou nos atirasse lições morais; éramos responsáveis por nossos destinos, por encontrar significado em cada pequeno instante, como aquele que eu vivia diante do espelho. Eu não era a imagem de um Deus, mas a própr...