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Os desafios do manejo clínico na estrutura neurótica obsessiva: entre o divã e os paradoxos do desejo

A clínica psicanalítica nos confronta, inevitavelmente, com as complexidades inerentes à estrutura neurótica obsessiva, essa configuração subjetiva que, como ensina a tradição lacaniana, não se constitui meramente como um conjunto de rituais compulsivos ou comportamentos repetitivos, mas como uma organização específica do desejo que busca controlar o incontrolável através de uma relação particular com o saber e com o tempo. Quando nos debruçamos sobre os possíveis manejos clínicos necessários ao trabalho com pessoas que apresentam essa estruturação, deparamo-nos com um território que exige, do analista sobretudo, um preparo de sofisticação técnica onde o desejo se manifesta precisamente através de sua própria evitação sistemática. É preciso compreender que, na obsessão, o sujeito geralmente busca ocupar uma posição singular diante da castração, não a denega como na perversão, nem a interroga dramaticamente como na histeria, mas a controla através de rituais e formações reat...
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Os desafios do manejo clínico na estrutura neurótica histerica: entre o divã e os paradoxos do desejo

A clínica psicanalítica nos confronta, inevitavelmente, com as complexidades inerentes à estrutura neurótica histeria, essa configuração subjetiva que, como ensina a tradição lacaniana, não se constitui meramente como uma teatralidade excessiva ou uma busca desenfreada por atenção, mas como uma organização específica do desejo que interroga incessantemente o Outro sobre a natureza mesma do desejo e do amor. Quando nos debruçamos sobre os possíveis manejos clínicos necessários ao trabalho com pessoas que apresentam essa estruturação, deparamo-nos com um território que exige, do analista sobretudo, um preparo de sofisticação técnica onde o desejo se manifesta precisamente através de sua própria encenação e dramatização constante. É preciso compreender que, na histeria, o sujeito geralmente busca ocupar uma posição singular diante da castração, fazendo dela não um limite a ser aceito, mas uma pergunta a ser constantemente reiterada através de identificações múltiplas e contrad...

Os desafios do manejo clínico na estrutura perversa: entre o divã e os paradoxos do desejo

A clínica psicanalítica nos confronta, inevitavelmente, com as complexidades inerentes à estrutura perversa, essa configuração subjetiva que, como ensina a tradição lacaniana, não se constitui meramente como um desvio comportamental, mas como uma organização específica do desejo frente ao Outro.  Quando nos debruçamos sobre os possíveis manejos clínicos necessários ao trabalho com pessoas que apresentam essa estruturação, deparamo-nos com um território que exige, do analista sobretudo, um preparo de sofisticação técnica que vai muito além das convenções tradicionais do setting analítico. É preciso compreender que, na perversão, o sujeito geralmente busca ocupa uma posição singular diante da castração, não a recalca como na neurose, nem a foraclui como na psicose, mas a denega, construindo um cenário fantasmático onde a saída é se colocar como instrumento de gozo do Outro. O primeiro manejo fundamental reside na necessidade de não "cair na armadilha" da demanda per...

Contraste como fundamento da felicidade na sociedade do espetáculo

Em "O Mal-Estar na Civilização" (1930), Sigmund Freud postula que a busca pela felicidade constitui um desejo humano universal e constante, caracterizando a existência humana como um estado permanente de tensão entre o princípio do prazer e o princípio da realidade. O psicanalista vienense argumenta que o ser humano experimenta essa tensão através de manifestações psíquicas como ansiedade, medo, angústia e insatisfação crônica. Como afirma Freud (1930/2010, p. 30), "o que chamamos de felicidade, no sentido mais estrito, provém da satisfação repentina de necessidades altamente represadas, e por sua natureza é possível apenas como fenômeno episódico". No cerne dessa reflexão, Freud identifica o contraste como elemento fundamental na produção da experiência de prazer e, consequentemente, na possibilidade de felicidade humana. Esta análise torna-se particularmente relevante quando confrontada com o cenário contemporâneo, marcado pela artificialidade das relações sociais...

Ser professor - por Ítalo Silva

Sei que ser professor não é uma mera paixão para si mesmo. Transborda. ♥️ Não deve ser uma paixão pela vaidade do lugar de mestre absolutista que coloca as normas, doutrina com a sua verdade e controla os corpos: “pode/não pode ir ao banheiro... senta/levanta... fala/cala.” Ser professor é a estranha medida de mediar relações e provocar no outro o encontro em si de suas habilidades ao deliciar-se do prazer de relacionar com a sabedoria. Ser professor é uma atuação maiêutica - “parir das ideias”, ensinou o professor Sócrates. No apontamento de conteúdos ser professor é levar o outro para se ver naquilo que é estudado e nisto se reconhecer como pessoa histórica e social... Ser professor é contribuir com a transformação que é causada com o 'amor pela sabedoria.' Ser professor é ser o profeta de novos tempos de um mundo em transformação e das transformações de mundos. Vejo que a educação tem se configurado para novas possibilidades e permanecer conservador e inflexível significa se...

Religião e sociedade: breve ensaio das abordagens sociológicas e antropológicas

A religião tem um papel significativo na vida das pessoas, afetando a construção de valores, comportamentos e instituições sociais. No contexto brasileiro, essa influência é notável devido à diversidade crescente de práticas religiosas, marcada pela diminuição da tradição católica e pela ascensão de grupos evangélicos, especialmente os pentecostais. Este ensaio tem como objetivo analisar as interações entre religião, sociedade e cultura, utilizando diferentes abordagens teóricas que aprofundam essas relações. Com ênfase nas contribuições de pensadores como Max Weber e Karl Marx, além da importância da Teologia da Libertação e da análise de Émile Durkheim sobre a coesão social, buscamos entender como a religião continua a moldar, e ao mesmo tempo ser moldada por, contextos sociais e históricos. No Brasil, a sociedade é marcada por uma diversidade crescente de práticas religiosas, refletindo um profundo sincretismo cultural, caracterizado por um declínio do catolicismo e um aumento acent...