Acordei em uma manhã ensolarada, como se o sol quisesse me abraçar, e a aula de Ética ainda reverberava em minha mente, um eco de ideias e reflexões. O amor, essa força intrínseca que permeia nossa existência, dançava em meus pensamentos, mas, em meio a essa tempestade de sentimentos, havia um chamado mais primitivo: a fome. Ah, a fome! Um grito visceral que não se cala, um lembrete de que, antes de tudo, sou carne, sou desejo, sou necessidade.
Com os dedos dançando sobre a tela do celular, enviei uma mensagem ao meu namorado, um gatíssimo de coração generoso. As palavras que escrevi eram simples, mas carregavam o peso de um universo. O amor, segundo Lacan, é uma inquietude contínua, uma busca por algo que sempre parece escapar, e ali estava eu, tentando capturar essa essência fugidia. Era uma tentativa de preencher um vazio que, por vezes, se tornava insuportável, mas, ao mesmo tempo, era uma fonte de alegria, um fio invisível que me conectava à vida.
Segui para o meu consultório de psicanálise, onde as paredes eram testemunhas silenciosas de histórias entrelaçadas. Ali, escutava o inconsciente das pessoas, mergulhando em suas contradições, emprestando, algumas vezes, minhas palavras para que pudessem se situar em seus labirintos emocionais. O fardo da culpa e da vergonha, frequentemente alimentados por nossas potências e potencialidades, era um peso que tentava aliviar em cada sessão. O amor, essa força poderosa, pulsava como o tema central das conversas, um rio caudaloso que arrastava tudo em seu caminho.
Enquanto escutava um paciente e outro, uma reflexão me atravessava novamente: como as representações culturais moldam nossa percepção do amor? A literatura, as religiões, essas construções sociais que idealizam o amor de maneira dramática, distorcendo a realidade. Nossas expectativas se moldam a ideais inatingíveis, e a busca pela redenção no amor pode se transformar em uma armadilha, levando à frustração quando confrontadas com a complexidade das relações humanas.
Mas, entre uma sessão e outra, não pude deixar de recordar Winnicott e seu conceito de ambiente facilitador. O amor, como o primeiro ambiente de cuidados, é essencial para a formação da identidade. A qualidade desse ambiente inicial influencia nossa capacidade de estabelecer relações saudáveis ao longo da vida. Assim, percebi que o amor não é apenas uma busca por completude; é um processo de autoaceitação, uma dança entre as diferentes partes que compõem o eu.
Ao final das sessões, o amor se revelava mais do que um simples sentimento; era um processo complexo de inauguração e transformação. Ele nos desafia a confrontar nossas limitações e vulnerabilidades, enquanto nos proporciona a oportunidade de nos tornarmos seres mais plenos. Como Freud disse, “Em última análise, precisamos amar para não adoecer.” E eu, como professor e psicanalista, não poderia estar mais de acordo.
Voltando para casa, com a barriga roncando e o coração aquecido pelas trocas do dia, refleti sobre a importância de vivenciar o amor de forma autêntica. A troca de afetos e cuidados mútuos é fundamental para o bem-estar emocional. Permitir-se amar e ser amado é um ato de coragem, uma forma de transformar o banal em experiências significativas.
O amor, nessa experiência, é a procura de acolhimento, aprendizado e transformação. Ao longo do caminho, descobri que ele não é apenas uma busca por satisfação afetiva, mas uma oportunidade de reviver os cuidados vitais que nos moldam. E, ao final do dia, quando finalmente sentei para comer, percebi que o amor não apenas sutura nossas feridas, mas também nos ensina a apreciar as pequenas coisas da vida. Afinal, amar é uma forma de viver plenamente, e isso, por si só, já é uma deliciosa refeição.
E assim, entre omeletes e reflexões, entre o calor da cozinha e o brilho da janela, o amor se revela em sua essência mais pura: um convite para saborear a vida em todas as suas nuances, um lembrete de que, no fundo, somos todos buscadores de afeto, navegantes em mares de emoções, sempre à procura de um porto seguro onde possamos ancorar nossos corações.
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