Na penumbra onde o corpo se desdobra,
encontro a trilha do prazer,
um caminho contrário às neuroses,
que erguem muralhas de hierarquia e poder,
como um eco distante, já não gesto meu.
O sexo, resposta visceral,
uma linguagem de instintos,
onde os corpos se instituem,
sem a opressão do olhar severo,
sem a contagem dos direitos e deveres.
Nessa dança crua,
onde a pele fala e se revela,
o desejo emerge como água de fonte,
refresca a alma faminta,
liberta os corpos do peso da exclusão.
Pois a cultura, com suas garras,
tenta capturar essa substância,
subjugar o corpo à fórmula do poder,
mas aqui, nesta entrega,
é a cidadania do vir a ser.
Não sou eu, mas o nós,
no instante em que a carne se une,
o eu se dissolve e surge o ser,
aquele que se reafirma sem julgamentos,
que se permite viver, acariciar, gozar.
E é nesse espaço sagrado do toque,
onde a pura existência se manifesta,
que se rompem as amarras da conformidade,
desabrocha a possibilidade do amor,
neste fluxo de vidas a um só tempo,
um hino à liberdade,
não um fardo de obrigações.
Aqui, no pulsar do desejo,
o sexo é, portanto,
a vertente mais pura,
o grito de quem quer ser,
cidadão do próprio corpo,
na celebração de cada instante,
na alquimia do ser apenas,
sem a armadilha da opressão.
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