Introdução: o que não se conta no jantar de família
Imagine a seguinte cena: uma pessoa bem-sucedida, respeitada no trabalho, querida pela família, carrega consigo um segredo que considera inconfessável. Não é crime, não machuca ninguém diretamente, mas ainda assim provoca angústia profunda. Pode ser uma atração irresistível por pés, uma necessidade de usar roupas de látex para sentir prazer, ou uma fixação em situações específicas que fogem completamente do que aprendemos ser "normal" no amor e no sexo. Bem-vindo ao mundo dos fetiches - território que Sigmund Freud mapeou com coragem quando a sociedade vienense do século XIX fingia que sexo só existia para fazer bebês.
Como observa o psicanalista brasileiro Contardo Calligaris em seu livro "Cartas a um jovem terapeuta" (2004, p. 89): "o que chamamos de perversão é muitas vezes apenas a coragem de desejar diferente, num mundo que exige que todos desejem da mesma forma monótona e previsível". Esta reflexão nos convida a suspender julgamentos morais e compreender o fetiche como fenômeno profundamente humano - tão humano que, segundo pesquisas contemporâneas citadas por Christopher Bollas em "The Shadow of the Object" (1987), cerca de um terço da população adulta experimenta alguma forma de interesse fetichista ao longo da vida. Mas então, por que tanto sofrimento? Por que tanto segredo? E principalmente: como a psicanálise pode ajudar?
A psicanalista brasileira Maria Rita Kehl, em "Deslocamentos do feminino" (2016, p. 234), nos provoca: "vivemos numa sociedade que fetichiza mercadorias e mercantiliza corpos, mas se escandaliza quando alguém admite honestamente seu fetiche sexual. Não seria esta a verdadeira perversão - esta hipocrisia estrutural?" Esta inversão de perspectiva é fundamental para compreendermos o sofrimento desnecessário imposto àqueles cujo desejo não se conforma aos padrões estabelecidos.
Freud e a descoberta revolucionária: quando o sapato vale mais que a pessoa
A teoria original e suas implicações radicais
Em 1927, Freud publicou seu ensaio seminal "Fetichismo", onde propôs uma explicação que escandalizou até mesmo os círculos psicanalíticos da época. Segundo ele, o fetiche surge na infância, especificamente no momento em que o menino pequeno (sim, Freud focava principalmente em homens, limitação histórica que abordaremos) descobre que a mãe não possui pênis. Este momento, que ele denominou "horror da castração", seria de tal magnitude traumática que a criança criaria uma solução de compromisso psíquico.
Freud (1927/1996, p. 155) escreveu precisamente: "o fetiche é um substituto do pênis da mulher (da mãe) em que o menininho outrora acreditou e que - por razões que nos são familiares - não deseja abandonar". E continua, em passagem reveladora: "sim, em sua mente a mulher ainda tem um pênis, mas este pênis já não é o mesmo que era antes. Algo mais tomou seu lugar, foi nomeado, de certa maneira, seu substituto" (p. 156).
Esta formulação, que hoje pode soar bizarra ou até cômica para o leitor leigo, representou uma revolução conceitual. Pela primeira vez, alguém tentava entender cientificamente - dentro dos parâmetros da época - por que algumas pessoas só conseguem excitação sexual com objetos ou situações específicas. O fetiche não era mais visto como degeneração moral ou falha de caráter, mas como solução criativa da psique infantil diante de descoberta insuportável.
Freud (1927/1996, p. 157) ainda acrescenta algo fundamental: "o fetiche salva o fetichista de se tornar homossexual, dotando as mulheres da característica pela qual elas se tornam toleráveis como objetos sexuais". Esta afirmação, claramente datada e problemática sob perspectiva contemporânea (que erroneamente liga homossexualidade a trauma), revela, contudo, algo importante: o fetiche como tentativa de tornar o intolerável tolerável, o impossível possível.
As limitações freudianas e a necessidade de expansão
O psicanalista brasileiro Christian Dunker, em "Reinvenção da intimidade" (2017, p. 178), observa criticamente: "Freud estava certo sobre o fetiche ser uma formação de compromisso, mas errou ao limitá-lo à angústia de castração masculina. E as mulheres fetichistas? E os fetiches que nada têm a ver com genitais?" Esta crítica é fundamental para compreendermos as expansões teóricas posteriores.
Joyce McDougall, em sua obra fundamental "As múltiplas faces de Eros" (1995/2001, p. 67), amplia significativamente a visão freudiana: "o fetiche não é apenas defesa contra a castração, mas tentativa criativa de sobrevivência psíquica diante de traumas precoces de naturezas diversas - abandono, invasão, aniquilamento". E continua, em passagem esclarecedora (p. 69): "o objeto fetiche pode representar a mãe ausente, o pai violento, o próprio self ameaçado de desintegração. É sempre uma solução, nunca o problema em si".
Esta expansão conceitual é crucial. O fetiche deixa de ser apenas sobre pênis perdidos e passa a ser compreendido como resposta criativa a diversas formas de trauma e angústia. Como observa Tales Ab'Sáber em "O sonhar restaurado" (2005, p. 145): "o fetichista é um poeta do trauma, alguém que transformou dor em ritual, ausência em presença, impossibilidade em possibilidade, ainda que ao preço de certa rigidez em seu desejo".
O sofrimento silencioso: quando o prazer se torna prisão dourada
A solidão estrutural do fetichista
Maria, 35 anos, executiva bem-sucedida (nome e detalhes alterados para preservar confidencialidade), procurou análise com queixa de "incapacidade de manter relacionamentos". Após seis meses de trabalho analítico, finalmente revelou: só conseguia sentir prazer sexual quando seu parceiro usava meias pretas específicas de marca determinada. "doutor, o senhor deve estar me achando ridícula", disse na sessão, chorando copiosamente. Este autorrebaixamento, esta vergonha corrosiva, é marca registrada do sofrimento fetichista.
Louise Kaplan, em "Female Perversions" (1991, p. 89), observa com precisão cirúrgica: "o fetichista não sofre primariamente pelo que deseja, mas pelo quanto se odeia por desejar. É uma tortura dupla - necessitar de algo específico para o prazer e simultaneamente desprezar-se por esta necessidade". E acrescenta (p. 91): "a vergonha do fetichista é a vergonha de não conseguir amar 'corretamente', de falhar em ser 'normal', de precisar de muletas para o que deveria ser 'natural'".
O psicanalista Adam Phillips, em "Monogamia" (1996/1999, p. 112), escreve com sensibilidade: "o fetichista vive o terror de ser descoberto não porque seu desejo seja criminoso, mas porque teme ser visto como ridículo. E o ridículo, diferentemente do criminoso, não tem defesa possível - não há argumentos contra o riso de escárnio". Esta observação é fundamental - o problema não é legal ou mesmo moral, é o medo da humilhação social, de ser visto como "anormal" ou "doente".
O dilema dos relacionamentos: entre a máscara e a revelação
João, 42 anos, casado há 15 anos (caso clínico com identificação alterada), nunca revelou à esposa sua necessidade de tocar tecidos de seda para conseguir excitação. Em suas palavras durante sessão analítica: "eu finjo. Sempre fingi. Penso na seda enquanto estamos juntos. É como se eu estivesse traindo ela comigo mesmo, como se fizesse amor com ela pensando em outra... mas esta outra não é pessoa, é textura, é sensação que não consigo explicar".
Robert Stoller, em "Perversion: The Erotic Form of Hatred" (1975, p. 34), analisa este dilema: "o fetichista vive scissão permanente - seu corpo está com o parceiro, mas seu desejo está com o fetiche. Esta divisão cria culpa, distância, sensação de fraudulência que corrói relacionamentos por dentro". E continua (p. 36): "paradoxalmente, quanto mais o fetichista ama seu parceiro, mais culpado se sente por não conseguir desejá-lo 'puramente', sem mediação do fetiche".
A psicanalista brasileira Miriam Debieux Rosa, em "A clínica psicanalítica em face da dimensão sociopolítica do sofrimento" (2016, p. 92), acrescenta dimensão social importante: "em sociedade que romantiza o amor como encontro de almas puras e corpos naturais, o fetichista se vê como impostor, alguém que contamina a pureza do amor com sua necessidade 'suja' e 'artificial'". Esta observação revela como ideologias românticas sobre sexualidade "natural" aumentam o sofrimento de quem deseja diferente.
A escuta psicanalítica: oferecendo dignidade ao aparentemente indigno
O divã como espaço de liberdade radical
Quando alguém com interesses fetichistas procura análise, geralmente já passou anos, às vezes décadas, carregando vergonha e segredo como fardos pesados demais para carregar sozinho. O primeiro desafio do analista é criar o que Donald Winnicott chamava de "ambiente suficientemente bom" - mas no caso do fetichista, este ambiente precisa ser mais que bom, precisa ser radicalmente acolhedor.
Betty Joseph, em "Psychic Equilibrium and Psychic Change" (1989, p. 203), observa: "não cabe ao analista julgar o fetiche moralmente, mas compreender sua função na economia psíquica do paciente. O fetiche é sintoma no sentido psicanalítico - formação de compromisso entre forças conflitantes, solução imperfeita mas necessária para problema insolúvel". E acrescenta (p. 205): "quando o analista consegue genuinamente interessar-se pelo fetiche sem fascínio ou repulsa, cria-se espaço onde o analisando pode, pela primeira vez, interessar-se por seu próprio desejo sem vergonha paralisante".
Christopher Bollas, em "The Shadow of the Object" (1987, p. 156), propõe abordagem ainda mais radical: "o fetiche é uma solução, não um problema. O problema é o que tornou o fetiche necessário. Nossa tarefa não é eliminar a solução, mas compreender e, se possível, elaborar o problema original". Esta mudança de perspectiva é revolucionária - em vez de tentar "curar" o fetiche (o que raramente funciona e geralmente aumenta a angústia), o analista ajuda o paciente a compreender sua função e significado.
O processo analítico: arqueologia do desejo
O trabalho analítico com fetichistas requer paciência e delicadeza particulares. Como observa a psicanalista brasileira Renata Cromberg em "Cena incestuosa" (2001, p. 123): "o fetiche é como cebola psíquica - cada camada revelada traz lágrimas, cada significado descoberto remete a outro mais profundo. É trabalho arqueológico delicado, onde pressa pode destruir o que se busca compreender".
Em análise, o fetiche é explorado através de múltiplas dimensões. O analista pode perguntar: quando você se lembra de ter sentido isso pela primeira vez? Que sensações o fetiche proporciona além da sexual? Que memórias, fantasias, sensações corporais ele evoca? Como observa Joyce McDougall (1995/2001, p. 234): "o fetiche é palavra congelada, história não contada, trauma encapsulado em objeto. Nosso trabalho é descongelar, permitir que a história seja contada, que o trauma seja nomeado e elaborado".
Um exemplo clínico ilustrativo (com identificação completamente alterada): Pedro, 28 anos, tinha fetiche por luvas de couro. Em dois anos de análise, descobriu conexão com memórias da avó que o criava - ela sempre usava luvas quando saíam juntos, pois tinha vergonha de suas mãos envelhecidas. As luvas representavam simultaneamente presença (da avó amada) e ausência (das mãos reais, do toque direto). Como Pedro disse em sessão: "as luvas são minha avó e a impossibilidade de tocá-la verdadeiramente. São amor e barreira ao mesmo tempo".
O mercado do desejo: profissionais especializados e economia libidinal
Dominadoras profissionais: terapeutas não reconhecidas
No submundo urbano das grandes cidades brasileiras, existe toda uma economia paralela do fetiche. Dominadoras profissionais (conhecidas como dominatrix ou pro-dommes), que podem cobrar de 300 a 1000 reais por sessão, oferecem serviços que transcendem o meramente sexual. Como observa a socióloga Elizabeth Bernstein em "Temporarily Yours: Intimacy, Authenticity, and the Commerce of Sex" (2007, p. 178): "muitas vezes, o que está sendo comprado não é sexo, mas a possibilidade de ser compreendido sem julgamento, de existir sem máscaras por tempo determinado e seguro".
Uma dominadora profissional de São Paulo, que chamaremos de Mistress V., em entrevista para pesquisa acadêmica (2019), relata: "metade dos meus clientes não quer penetração ou sexo convencional. Querem alguém que entenda suas necessidades específicas sem fazer cara de nojo, sem tentar 'curá-los', sem julgamento moral. Querem poder ser eles mesmos por uma hora, duas horas, sem peso da vergonha que carregam 24 horas por dia".
Este depoimento revela algo profundo sobre a função dessas profissionais. Como observa a psicanalista Marlene Wayar em "Travesti: una teoría lo suficientemente buena" (2018, p. 89): "trabalhadoras sexuais especializadas em fetiche frequentemente exercem função quase terapêutica - holding, continência, espelhamento, validação. São analistas selvagens, sem formação formal mas com conhecimento intuitivo profundo sobre economia do desejo".
O trabalho emocional invisível e desvalorizado
Mistress V. continua seu relato: "tenho clientes há 10, 15 anos. Conheço suas vidas, medos, alegrias, tragédias familiares. Sou a única pessoa com quem podem ser completamente honestos sobre seus desejos. Alguns choram em sessão, não de dor física, mas de alívio de poderem existir sem fingimento". Este trabalho emocional, esta função de continência e acolhimento, raramente é reconhecida socialmente.
Christopher Bollas (1987, p. 201) observa com perspicácia: "às vezes, o que chamamos de perversão é simplesmente a necessidade de encontrar alguém que aceite nossa verdade mais íntima sem necessidade de explicação ou justificativa. Profissionais do fetiche oferecem este espaço de aceitação radical que família, amigos e até terapeutas convencionais muitas vezes não conseguem proporcionar".
A psicanalista brasileira Maria Rita Kehl (2016, p. 267) acrescenta dimensão política importante: "desprezamos trabalhadoras sexuais enquanto secretamente dependemos delas para manter a ordem social. Elas absorvem o excesso, o estranho, o que não cabe no casamento tradicional. São o sintoma de nossa hipocrisia coletiva - condenamos publicamente o que privadamente consumimos".
Tribos urbanas e comunidades digitais: o fetiche como identidade coletiva
A revolução digital e o fim do isolamento
Com o advento da internet, pessoas com fetiches específicos descobriram que não estavam sozinhas no universo. Fóruns online, grupos de WhatsApp, comunidades no FetLife (rede social para praticantes de BDSM e fetiches com mais de 8 milhões de usuários), grupos no Telegram, perfis no Twitter - criaram-se espaços onde o que era segredo vergonhoso virou identidade compartilhada e, em alguns casos, celebrada.
Como observa a antropóloga digital Margot Weiss em "Techniques of Pleasure: BDSM and the Circuits of Sexuality" (2011, p. 134): "o que era patologia individual no DSM se transformou em subcultura legítima com seus próprios códigos, éticas, estéticas e políticas. A internet permitiu que fetiches raros encontrassem seus pares - alguém com fetiche por balões, que poderia passar vida inteira achando ser único, descobre comunidade global de milhares de 'looners'".
Christian Dunker (2017, p. 245) analisa este fenômeno: "a digitalização do desejo criou paradoxo interessante - ao mesmo tempo que fragmenta (cada fetiche tem seu nicho), também conecta (pessoas isoladas encontram comunidades). É a dialética digital - quanto mais específico seu desejo, mais provável que encontre outros iguais a você em algum canto da internet".
Formação de identidade e políticas de pertencimento
Para muitos, descobrir uma comunidade fetichista online é experiência transformadora comparável a conversão religiosa ou descoberta de orientação sexual. Carlos, 28 anos (nome fictício), relata em entrevista de pesquisa: "quando encontrei o grupo brasileiro de balloon fetish [fetiche por balões], foi como voltar para casa depois de vida inteira de exílio. Pela primeira vez, não precisei explicar nada. Todos entendiam. Tinha até termos específicos - 'popper' para quem gosta de estourar, 'non-popper' para quem prefere abraçar. Era todo um universo que eu não sabia que existia".
Jessica Benjamin, em "The Bonds of Love" (1988, p. 178), observa: "o reconhecimento mútuo é necessidade humana fundamental. Quando alguém encontra outros que compartilham seu desejo específico, experimenta validação existencial profunda. Deixa de ser 'doente' para ser membro de comunidade, de 'perverso' para 'praticante', de 'anormal' para 'kinky'". Esta mudança de nomenclatura não é cosmética - representa transformação fundamental na autoimagem e autoestima.
A psicanalista brasileira Miriam Debieux Rosa (2016, p. 156) acrescenta: "estas comunidades funcionam como holding coletivo, oferecendo continência que família de origem muitas vezes negou. São famílias escolhidas, unidos não por sangue mas por desejo compartilhado, por compreensão mútua do que é viver à margem da normatividade sexual".
Associações formais e ativismo político
Algumas comunidades fetichistas evoluíram para organizações formais com CNPJ, diretoria eleita e ações políticas organizadas. O "Projeto Clube Domínio" em São Paulo oferece workshops mensais sobre práticas BDSM seguras, com instrutores certificados internacionalmente. A "Rede Brasileira de Pessoas que Praticam BDSM" (ReBPBDSM) luta contra discriminação, promove educação sobre consentimento e oferece suporte jurídico para pessoas discriminadas por suas práticas sexuais consensuais.
Como documenta a socióloga Regina Facchini em "Sopa de letrinhas?" (2005, p. 234): "o movimento BDSM brasileiro segue trajetória similar ao movimento LGBT - do armário à rua, da vergonha ao orgulho, do isolamento à organização política. Hoje temos 'paradas do orgulho kinky' em São Paulo, Rio e Belo Horizonte, com milhares de participantes".
Michel Foucault, em "História da sexualidade" (1976/1988, p. 147), já antecipava: "onde há poder, há resistência. A sexualidade periférica, ao ser nomeada e categorizada pelo poder médico-jurídico, cria paradoxalmente condições para sua própria organização e resistência". Estas comunidades resistem à normalização, criando espaços onde a diferença não é apenas tolerada, mas celebrada como expressão de diversidade humana.
Os dilemas éticos: consentimento, limites e responsabilidades
SSC, RACK e a ética do prazer consensual
A comunidade BDSM internacional desenvolveu protocolos éticos sofisticados que vão muito além do simples "sim" ou "não". O SSC (são, seguro e consensual) evoluiu para o RACK (risk-aware consensual kink - prática consensual com consciência de risco), reconhecendo que algumas práticas envolvem riscos que não podem ser completamente eliminados, apenas gerenciados.
Como explica a educadora sexual Clarisse Thorn em "The S&M Feminist" (2012, p. 89): "consentimento no BDSM não é evento único, mas processo contínuo. Envolve negociação prévia detalhada, estabelecimento de limites rígidos (hard limits) e flexíveis (soft limits), palavras de segurança (safewords), checagens constantes durante a cena e cuidados posteriores (aftercare)". E continua (p. 91): "ironicamente, a comunidade BDSM desenvolveu modelo de consentimento mais sofisticado que o sexo 'baunilha', onde muitas vezes as coisas 'simplesmente acontecem' sem discussão prévia".
A psicanalista Muriel Dimen, em "Sexuality, Intimacy, Power" (2003, p. 145), observa: "o fetiche ético requer não apenas consentimento, mas consentimento entusiasmado, informado e revogável a qualquer momento. É o oposto da compulsão - é escolha consciente de adultos que negociam seus desejos com transparência radical".
Os limites do aceitável: entre variação e violência
Mas existem limites? Onde termina a variação sexual legítima e começa a patologia perigosa? Robert Stoller (1975, p. 89) propõe distinção importante: "perversão é a forma erótica do ódio. Quando o prazer depende fundamentalmente de causar dano real não consensual a outro, deixamos o território do fetiche e entramos no da violência sexualizada".
Joyce McDougall (1995/2001, p. 302) elabora: "há diferença fundamental entre necessitar de sapatos de salto alto para excitação e necessitar causar sofrimento não consensual. A primeira é variação que não causa dano, a segunda é atuação violenta que usa sexualidade como veículo". Esta distinção - consentimento e ausência de dano real - separa o fetiche como variação sexual legítima da violência disfarçada de sexualidade.
Tales Ab'Sáber (2005, p. 201) acrescenta nuance importante: "mesmo práticas consensuais podem esconder dinâmicas destrutivas. Alguém pode consentir em ser humilhado por repetir compulsivamente trauma não elaborado. O consentimento formal não elimina necessidade de reflexão sobre significados inconscientes e possíveis aspectos autodestrutivos".
A clínica contemporânea: novos paradigmas e desafios
Quando o fetiche se torna problema: indicadores clínicos
A psicanálise contemporânea não vê o fetiche como doença a ser curada, mas reconhece situações onde pode causar sofrimento significativo. Como observa Christian Dunker (2017, p. 289): "o problema não é ter fetiche, é quando o fetiche tem você - quando se torna tão tirânico que impede outras formas de prazer, intimidade e conexão".
Indicadores de que pode ser útil buscar ajuda analítica incluem: quando o fetiche impede formação ou manutenção de relacionamentos íntimos desejados; quando gera vergonha tão intensa que leva a isolamento social; quando se torna compulsivo, prejudicando trabalho, finanças ou vida social; quando a pessoa deseja maior flexibilidade em sua vida sexual mas sente-se aprisionada; quando há discrepância entre valores conscientes e comportamento sexual que gera culpa insuportável.
Tales Ab'Sáber (2005, p. 234) observa com precisão: "não se trata de eliminar o fetiche, mas de torná-lo menos tirano, mais integrado à vida total da pessoa. O objetivo não é normalização, mas ampliação - que o fetiche seja uma possibilidade entre outras, não a única porta para o prazer".
O processo analítico contemporâneo: integração sem normalização
Em análise contemporânea informada por perspectivas críticas, o fetiche é explorado como qualquer outro aspecto da vida psíquica - com curiosidade, sem julgamento, buscando compreender sua função e significado. Como propõe a psicanalista Jaqueline Cardoso em "Psicanálise e diversidade sexual" (2018, p. 167): "nossa tarefa não é adaptar o sujeito à normatividade sexual, mas ajudá-lo a encontrar formas de viver seu desejo que sejam menos custosas psiquicamente, mais integradas à totalidade de sua existência".
Uma vinheta clínica ilustrativa: Marina, 45 anos, professora universitária, procurou análise não por seu fetiche por sapatos masculinos, mas por depressão após divórcio. Durante meses, o fetiche não foi mencionado. Quando finalmente revelou, esperava horror ou interpretação patologizante. Em vez disso, ouviu: "continue, estou escutando. Parece que isso é importante para você".
Aos poucos, Marina conectou o fetiche a memórias complexas do avô sapateiro que a criava enquanto os pais trabalhavam. O cheiro de couro, o barulho dos sapatos sendo polidos, o ritual do engraxate - tudo isso representava os únicos momentos de paz e segurança em infância caótica marcada por violência doméstica. "os sapatos eram a única coisa estável, confiável, previsível na minha vida", percebeu em momento de insight.
Com esta compreensão, Marina não abandonou seu fetiche, mas ele perdeu o caráter compulsivo e vergonhoso. Hoje, coleciona sapatos vintage como hobby reconhecido, tem blog sobre história do calçado masculino com milhares de seguidores, e encontrou parceiro que acha seu interesse "charmosamente excêntrico e parte do que a torna única". Como ela disse na última sessão: "não mudei meu desejo, mudei minha relação com ele. Deixou de ser segredo sujo para ser parte interessante de quem sou".
Casos clínicos: humanizando o incompreensível
Roberto e a descoberta da honestidade
Roberto, engenheiro de 38 anos, gastava fortunas em roupas de látex importadas que escondia em malote alugado no trabalho - em casa, tinha pavor que a esposa descobrisse. O segredo estava corroendo o casamento, não o fetiche em si. Em suas palavras durante análise: "é como se eu tivesse vida dupla. O Roberto do látex e o Roberto marido são pessoas diferentes. A energia que gasto mantendo eles separados está me matando".
Após um ano de análise explorando origens e significados do fetiche (conectado a memórias de isolamento em hospital na infância, onde lençóis de plástico eram único contato sensorial consistente), Roberto trabalhou coragem para revelar à esposa. O processo levou meses - primeiro, conversas sobre honestidade no casamento, depois revelações graduais sobre fantasias, finalmente a verdade completa.
Para sua surpresa, a esposa respondeu: "é só isso? Pensei que tinha uma amante! Látex eu aguento, traição não". Juntos, procuraram terapia de casal onde exploraram como integrar o fetiche na vida sexual conjugal. A esposa descobriu que, embora látex não a excitasse diretamente, gostava de ver o marido genuinamente excitado e presente. Como ela disse: "é melhor ele 100% presente com látex do que ausente fingindo desejo que não sente".
Hoje, frequentam festas fetichistas juntos. Ela não participa ativamente das práticas com látex, mas apoia, fotografa (descobriu interesse por fotografia fetichista artística), e desenvolveu próprios interesses na comunidade. O casamento, que estava por um fio, se fortaleceu através da honestidade radical. Como Roberto observa: "o látex quase destruiu meu casamento quando era segredo. Como parte aceita de nossa vida, nos aproximou".
### Pedro e a comunidade como família escolhida
Pedro, 25 anos, gay do interior de Minas Gerais, descobriu a comunidade "puppy play" (pessoas que gostam de agir como cachorros em contextos eróticos e não-eróticos) através do Instagram. Crescendo em cidade pequena e conservadora, sempre se sentiu "errado em múltiplos níveis" - gay, kinky, artístico em ambiente que valorizava apenas masculinidade tradicional.
Quando encontrou perfis de puppy play brasileiros, foi revelação. Em suas palavras: "descobri que existiam outros como eu, que não era doença ou sem-vergonhice, que tinha nome, comunidade, até bandeira própria". Mudou-se para São Paulo especificamente para estar próximo da comunidade.
Na comunidade puppy, Pedro encontrou não apenas parceiros sexuais, mas estrutura de apoio completa. "não é só sobre sexo", explica. "é sobre poder ser brincalhão, carinhoso, tátil, sem as máscaras sociais adultas. Quando estou de 'puppy mode', posso ser puro afeto e presente, sem ansiedades sobre trabalho, dinheiro, futuro".
Pedro agora é "puppy alpha" de sua matilha, mentorando novatos, organizando eventos beneficentes (a comunidade puppy de São Paulo faz arrecadações regulares para abrigos de animais reais), e educando sobre consentimento em workshops. O fetiche, que poderia ter sido fonte de isolamento, tornou-se porta de entrada para comunidade, propósito e identidade positiva.
O fetiche na cultura brasileira: entre o carnaval e o conservadorismo
Literatura e arte: espelhos de nossos desejos ocultos
A cultura brasileira tem relação ambígua com o fetiche. Nelson Rodrigues, em suas peças e crônicas, explorou obsessivamente fetiches e "taras" da classe média carioca. Em "O beijo no asfalto" (1961), o fetiche por morte e o desejo homoerótico se entrelaçam em narrativa sobre preconceito e hipocrisia social.
Como observa a crítica literária Flora Süssekind em "Nelson Rodrigues e o fundo falso" (1993, p. 145): "Nelson não apenas retratou fetiches, mas mostrou como toda a sociedade brasileira é estruturada em torno de fetiches não confessados - a virgindade, a cor da pele, o diploma, o carro importado. Somos sociedade fetichista que finge moralidade".
Hilda Hilda Hilst, em sua trilogia obscena ("O caderno rosa de Lori Lamby", "Contos d'escárnio" e "Cartas de um sedutor"), explorou territórios ainda mais radicais. Como observa a crítica Eliane Robert Moraes em "O corpo impossível" (2002, p. 189): "Hilda não apenas narra fetiches, mas fetichiza a própria linguagem, transformando palavras em objetos eróticos, frases em carícias, parágrafos em orgasmos textuais".
A artista plástica Márcia X., falecida em 2005, criou instalações que confrontavam diretamente a hipocrisia sexual brasileira. Em "Desenhando com terços" (2000-2003), usava terços católicos para criar desenhos de órgãos sexuais no chão de galerias. Como analisa a curadora Katia Canton em "Novíssima arte brasileira" (2001, p. 78): "Márcia X. expunha o fetiche religioso-sexual brasileiro, onde a mesma sociedade que venera a virgem maria consome pornografia em escala industrial".
O carnaval como fetiche coletivo autorizado
O carnaval brasileiro pode ser lido como momento de fetichismo coletivo socialmente sancionado. Durante cinco dias, fantasias são literalizadas, identidades são fluidas, o proibido torna-se temporariamente permitido. Como observa o antropólogo Roberto DaMatta em "Carnavais, malandros e heróis" (1979, p. 234): "o carnaval é nossa válvula de escape fetichista coletiva, onde a sociedade inteira pode experimentar seus desejos proibidos sob proteção da fantasia e da temporalidade limitada".
A psicanalista Maria Rita Kehl (2016, p. 345) elabora: "o carnaval revela verdade incômoda - somos todos fetichistas reprimidos 360 dias por ano. Os cinco dias de folia não são exceção, são revelação do que somos quando a repressão afrouxa. As fantasias de carnaval são nossos fetiches confessados publicamente".
A moda fetichista e a comercialização do desejo
Da margem ao mainstream: quando o fetiche vira tendência
A moda brasileira tem incorporado elementos fetichistas de forma crescente. Marcas como Garimpório e Dendezeiro explicitamente usam estética BDSM em suas coleções. O estilista Alexandre Herchcovitch frequentemente inclui látex, couro e correntes em desfiles na São Paulo Fashion Week.
Como observa a jornalista de moda Lilian Pacce em "O Brasil na moda" (2018, p. 267): "o que era underground virou passarela, o que era perversão virou tendência. Mas ao transformar fetiche em moda, esvazia-se seu conteúdo subversivo. Correntes no pescoço da patricinha da zona sul não têm o mesmo significado que na submissa do clube BDSM".
Hal Foster, em "Design and crime" (2002, p. 78), analisa esta domesticação: "o capitalismo transforma tudo em mercadoria, até nossas perversões. O fetiche comercializado é fetiche neutralizado, esvaziado de sua potência transgressora, transformado em mais um produto nas prateleiras do shopping center".
Reflexões: por uma ética do desejo diferente
Além da tolerância: rumo à celebração da diversidade
A psicanálise contemporânea nos convida a ir além da mera tolerância ao diferente. Como propõe Adam Phillips em "On kissing, tickling and being bored" (1993, p. 134): "a questão não é por que algumas pessoas têm fetiches, mas por que todos não admitimos os nossos. Esta inversão é provocativa - sugere que todos temos nossas 'esquisitices', apenas alguns são mais honestos sobre elas".
Maria Rita Kehl (2016, p. 389) observa com precisão: "numa sociedade que mercantiliza tudo, talvez o fetichista seja o único honesto sobre a natureza objetal de seu desejo. Enquanto fingimos amar 'pessoas inteiras', o fetichista admite amar partes, objetos, situações específicas. Há honestidade brutal neste reconhecimento".
Tales Ab'Sáber (2005, p. 298) acrescenta: "o fetichista nos confronta com verdade incômoda - todo desejo é parcial, fragmentário, construído. A diferença é que ele não consegue ou não quer fingir totalidade onde há fragmentação".
O sofrimento desnecessário e o custo da normalização
Quanto sofrimento poderia ser evitado se vivêssemos em sociedade mais aceita à diversidade sexual? Quantos casamentos poderiam ser salvos pela honestidade? Quantas pessoas poderiam viver vidas mais plenas se não precisassem esconder partes fundamentais de si mesmas?
Darian Leader, em "What is madness?" (2011, p. 245), propõe: "o problema não é o fetiche, é a fetichização da normalidade. Esta obsessão com o 'normal', este policiamento constante do desejo, cria mais patologia que qualquer fetiche jamais poderia criar".
Christian Dunker (2017, p. 356) elabora no contexto brasileiro: "vivemos em país que fetichiza a 'família tradicional brasileira' enquanto tem uma das maiores indústrias pornográficas do mundo. Esta hipocrisia estrutural causa sofrimento imenso para quem não consegue fingir adequação a modelo impossível".
A contribuição da psicanálise: espaço para o impossível
A psicanálise, em sua melhor forma, oferece espaço onde o inaceitável pode ser falado, o impensável pode ser pensado, o inadmissível pode ser admitido. Não para julgar ou curar, mas para compreender e integrar. Como Freud (1937/1996, p. 265) escreveu no final da vida: "a tarefa da análise não é tornar as pessoas normais, mas torná-las capazes de escolher".
Para pessoas com fetiches, esta capacidade de escolha é fundamental. Escolher quando e como viver seu fetiche, escolher com quem compartilhar, escolher quanto espaço ele ocupa na vida. Não é sobre eliminar o desejo diferente, mas sobre torná-lo menos tirano, mais integrado à totalidade da existência.
Considerações temporárias da pesquisa: o fetiche como janela para a alma humana
O estudo psicanalítico do fetiche revela verdades desconfortáveis sobre a natureza humana. Mostra como o desejo é construído através de experiências precoces, muitas vezes traumáticas. Revela a criatividade da psique em encontrar soluções para problemas impossíveis. Expõe a arbitrariedade do que chamamos "normal" em sexualidade.
Mais importante, o fetiche nos ensina sobre compaixão. Quando compreendemos que aquela pessoa com desejo "estranho" está apenas tentando encontrar amor e prazer em mundo frequentemente hostil, fica mais difícil julgar. Quando reconhecemos nossos próprios fetiches - mesmo que sejam socialmente aceitos como fetiche por dinheiro, poder ou juventude - desenvolvemos humildade.
Susan Sontag, em "Against interpretation" (1966, p. 89), observou: "a perversão é apenas o sexo do outro". O que consideramos perverso ou fetichista diz mais sobre nossos preconceitos que sobre a natureza do desejo em si. Em sociedade verdadeiramente livre, o fetiche seria apenas mais uma cor no espectro infinito da sexualidade humana.
Contardo Calligaris (2004, p. 234) conclui com sabedoria: "talvez a verdadeira perversão seja a necessidade de que todos desejem da mesma forma. Neste sentido, o fetichista, em sua recusa em conformar-se, em sua insistência em desejar diferente, pode ser visto não como doente, mas como resistente - alguém que recusa a ditadura da normalidade".
O divã psicanalítico, as comunidades fetichistas, os profissionais do fetiche - todos oferecem espaços onde esta resistência pode existir, onde o desejo diferente pode respirar. São oásis em deserto de conformidade, lugares onde pessoas podem finalmente dizer: "este sou eu, com todas minhas estranhas e maravilhosas complicações".
E talvez, apenas talvez, se todos pudéssemos ser tão honestos sobre nossos desejos quanto o fetichista é forçado a ser, viveríamos em mundo menos hipócrita, menos violento, mais compassivo. Mundo onde a diferença não é apenas tolerada, mas celebrada como expressão da infinita criatividade humana em buscar prazer e conexão.
Como escreveu Guimarães Rosa em "Grande sertão: veredas" (1956, p. 89): "o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia". O fetiche é travessia - entre trauma e prazer, entre solidão e encontro, entre vergonha e orgulho. E a psicanálise, quando exercida com compaixão e sabedoria, pode ser a bússola nesta travessia rumo a vida mais autêntica, mesmo que esta autenticidade inclua látex, cordas, sapatos ou balões.
Porque no final, como nos ensina a psicanálise, somos todos perversos polimorfos tentando encontrar nosso caminho em mundo que insiste em nos normalizar. O fetichista apenas teve a coragem - ou foi forçado pela intensidade de seu desejo - a admitir esta verdade fundamental. E esta admissão, por mais dolorosa que seja, é o primeiro passo para a liberdade.
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