O Outro e o desejo: pensando sobre rejeição e valor subjetivo
Por que as pessoas não me querem? Por que eu não sou suficiente? Como posso ser mais agradável para os outros?
Tais interrogações emergem do grande Outro lacaniano, esse campo simbólico onde o sujeito busca incessantemente sua significação. A rejeição, longe de ser uma sentença definitiva, é na verdade um encontro com o desejo do Outro em sua radical alteridade.
Toda rejeição é fundamentalmente sobre o Outro. Mas o que isso significa no campo da subjetividade? Interroguemo-nos: Quem define o valor de um sujeito senão o próprio sujeito em sua estrutura desejante?
O Outro não diminui seu valor quando te rejeita. Ele simplesmente atualiza sua própria economia libidinal, seus próprios investimentos pulsionais. A rejeição é um ato de afirmação do desejo do Outro, não uma depreciação do seu ser.
Consideremos os mecanismos de defesas, isto é, tentativas de se defender da angústia:
- Sobre o que ele acredita ser melhor para ele: O Outro opera a partir de seu próprio campo de significantes, de suas próprias construções imaginárias. Sua rejeição não é um comentário sobre você, mas um testemunho de sua própria estrutura desejante.
- Sobre as próprias crenças: Cada sujeito é atravessado por uma rede simbólica que o precede. Suas crenças são fragmentos de um grande Outro que o constitui antes mesmo de seu nascimento.
- Sobre as próprias preferências: As preferências são sintomas, manifestações de um desejo que sempre escapa, que nunca se realiza completamente.
O outro, por sua própria agenda, escolhas e gostos, vez ou outra, te frustrará para defender o que acredita ou quer. Mas eis o ponto crucial: essa frustração não é uma sentença sobre seu valor, mas um encontro com a radical diferença.É a sua crença de que apenas na aceitação do outro você possui valor que te diminui, não ele. Aqui reside o núcleo da questão lacaniana: o desejo de ser desejado, a busca por um reconhecimento que sempre escapa.
A rejeição não é um deficit, mas um significante. Não diminui seu valor; seu valor permanece intacto. O que se modifica é apenas a relação fantasmática com o desejo do Outro.
A relação fantasmática com o desejo do Outro representa um dos mais complexos e fascinantes mecanismos psíquicos da subjetividade humana. Longe de ser um mero conceito teórico, trata-se de uma estrutura fundamental que orienta nossas interações, escolhas e construções identitárias.
A relação fantasmática com o desejo do Outro é um mecanismo psíquico onde:
- Você imagina o que o outro quer de você;
- Tenta se adequar a essa expectativa imaginária;
- Perde sua autenticidade na tentativa de ser aceito.
É como usar uma máscara permanente, acreditando que, se corresponder ao desejo imaginário do outro, será finalmente aceito. Porém, essa busca é impossível, pois:
- O desejo do outro é sempre mutável;
- Você nunca conseguirá preencher completamente as expectativas alheias;
- Cada tentativa o afasta mais de si mesmo.
Resultado: Frustração contínua e perda de identidade própria!
A saída? Reconhecer que seu valor não depende da aprovação externa e que a autenticidade é mais importante que qualquer tentativa de agradar.
Reconhecer isso é dar um passo além da dialética especular da aceitação, é compreender que o valor de um sujeito não está na confirmação externa, mas na sua própria capacidade de significar.
A rejeição, portanto, não é um fim, mas um novo começo na economia do desejo.
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