O sonho pertence a quem o narra
É o sonhador quem veste o sonho com palavras, costurando o véu da noite aos fios do dia, traduzindo o indizível em enredos tão falhos quanto belos.
O psicanalista, qual cartógrafo da alma, aponta os mapas simbólicos desenhados pelas mãos do inconsciente, mas jamais usurpa a autoria daquele que narra. Pois, no ofício de contar o sonho, descobre-se o narrador como escultor da própria existência, unindo fragmentos dispersos no espelho enigmático do desejo que, ao refletir-se, nunca se entrega por inteiro.
O sonho é rio que corre e se transforma; a tentativa de explicá-lo é a barca na correnteza.
A cada narração, novas margens surgem no horizonte do simbólico, mas permanece inalterado o fato: só quem dorme sonha — e só quem sonha pode, verdadeiramente, contar.
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