Os ciúmes assomam como sombras indesejadas, com suas garras delicadas e cortantes, ensaiando um balé que nos envolve em sua dança disfarçada. Ah, o amor livre, essa utopia que se pinta em cores vibrantes, e, ao mesmo tempo, carrega dentro de si os ecos do desamparo. A liberdade veste-se de um brilho sedutor, mas o coração... esse palácio de incertezas... ressoa com o temor de perder aquilo que se ama em uma tempestade de inseguranças.
Em cada olhar que se desvia, um vulcão interno desperta. O ciúme é um velho conhecido, que nos sussurra em cada esquina: "será que te ama tanto assim?" No âmago dessa liberdade que buscamos, as sombras insistem em se manter abertas, como janelas que não conseguem se fechar, permitindo a entrada de ventos perturbadores. Há na liberdade a promessa de um amor sem correntes, e, ao mesmo tempo, a fragilidade de correntes invisíveis que se entrelaçam em nossos corações.
E eis o dilema: como viver em um amor que se reinventa sem que as chamas do ciúme consumam o que era para ser um espaço de afeição e crescimento? Cada vez que os lábios do amado se encontram com outros, um aguilhão de insegurança perfura o peito. A mente, ah, essa traiçoeira artista da autoflagelação, faz da comparação um espetáculo de horror. Nos tornamos espelhos quebrados, refletindo mais inseguranças do que verdades. O amor libre se transforma em um jogo de apostas; a sorte é lançada a cada instante, em que um toque, um sorriso, podem ser o lampejo de um sentimento que se expande além de nós.
O desamparo é um amigo que se torna anfitrião, oculto sob os sorrisos que tentamos cruzar. É a solidão que, por vezes, se esconde no abraço, como um lobo disfarçado de carne. Como sustentar a confiança quando as paredes se tornam porosas, permitindo que o vento da dúvida as atravesse? E, assim, o amor livre é uma ironia, onde a vulnerabilidade e o desejo se entrelaçam como um par de amantes inseparáveis, e nos vemos perpetuamente na corda bamba entre querer e temer.
Em um amor que se reinventa, a insegurança não é um fardo a ser abandonado, mas um ingrediente que nos desafia a aprofundar a conexão. Precisamos aprender a dançar com os ciúmes, a aceitá-los como vestígios de um amor que se enriquece na liberdade, e, paradoxalmente, nos torna mais dependentes da confiança mútua. Cada sorte que apostamos é um convite à coragem - coragem de amar com as mãos abertas, mesmo que o coração pulse acelerado ante a possibilidade do despertar de outros afetos.
E, ao final dessa jornada, somos chamados a aceitar o que nos faz humanos: o desamparo nos ensina a fragilidade que habita em cada um de nós. Despertar para as incertezas significa abraçar o amor como um processo contínuo de invenção e reinvenção. Alguém que ama livremente não apenas procura conquistas externas, mas acaba descobrindo a liberdade interiora... liberdade de ser quem é, um ser que ama e que, mesmo envolto em medos e inseguranças, decide arriscar-se a viver plenamente. Porque, afinal, não há amor que não carregue em si a promessa do desencontro e, nas fraturas, a chance de um reencontro ainda mais belo.
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