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Os planos que se escapam entre os dedos.

Entre os dedos, os planos escorrem, fugazes como a luz que se esvai ao entardecer. Ah, em nossa mente, erguemos monumentos de intenções, cada passo cuidadosamente calculado, como quem desenha numa areia movediça. A vida que imaginamos é um palácio de cristal, resplandecente e gargalhante, mas o que dela se revela, no cotidiano complexo, é uma tapeçaria de sombras e luzes que nos desafiam a todo instante.

E assim, nos dispomos a fazer planilhas, a delinear rotinas. Hábito enganador, o de crer que se detém o controle das nossas aspirações. Cada retângulo em branco, cada coluna meticulosamente preenchida, é um grito mudo para que a vida se encaixe nos moldes que criamos, uma aposta ensaiada que, no entanto, acaba sendo movida por uma música que não é bem a que pedimos para escutar. Escolher? Ah, é uma arte solene, mas, como a vida, é também um fardo. É preciso ter ombros, ombros robustos, para não só carregar o peso das decisões, mas também o que elas fazem de nós.

As escolhas desenham em nossa psiquê linhas indeléveis: há a escolha do amor, que traz consigo a beleza e, ao mesmo tempo, a dor, como um ímã que atrai e repele... entrelaça e despedaça. Há a escolha do sonho, que ergue em nós esperanças e, em um instante, nos desenraiza, lançando-nos em mares revoltos. Ter ombros... é um chamado ao acolhimento, uma demanda de força, pois as escolhas, ah, elas não são apenas eventos de um dia. São dúvidas que se infiltram na pele, na fibra do ser, transformando o que somos, moldando o que seremos.

E assim, somos trancados em uma sala de espelhos que se distorcem, refletindo não apenas as nossas decisões, mas a maneira como nos deixamos tocar por elas. E se cada escolha é uma flecha lançada ao vento, o que fica é um efeito da nossa insegurança: como suportar o peso do que decidimos e, mais importante, do que essas decisões nos impõem? O ombro firme é um suporte, mas também é um bendito abrigo para os medos que carregamos; é um santuário onde erguemos a voz contra o que nos atenaza.

E ao final do dia, reconhecendo esse peso, quem somos senão um conjunto de histórias que se cruzam? Somos a intersecção de caminhos e, na tessitura do tempo, aprendemos que cada escolha, por mais solene que pareça, é também um diálogo com o que não escolhemos. Nessa última semântica, a vida nos ensina, como um amor amargo e doce, a arte de ser forte, de sustentar com graça não apenas o que decidimos, mas o que a vida, em sua caprichosa liberdade, 'decidiu' por nós. Ter ombros, portanto, é estar preparado para o peso e a leveza do existir, pois o que somos é, em síntese, uma dança entre a escolha e a entrega.

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