Não sei definir amizade, mas acho que amizade tem muito sobre uma tentativas de alcançar a individualidade do outro. É uma busca silenciosa, onde nos vemos no que o outro alcança, numa dança tênue em que cada movimento revela algo pertenente à nossa própria essência. Somos, afinal, seres que, mesmo tentando construir coletivos, carregamos a substancial solidão de cada um. Somos um, mesmo quando em composições de dois, três ou mais. Aprendi isso na psicanálise lacaniana, e até ri dessa verdade tão crua e direta.
Nesse impulso de tentar criar laços, é como se nos esculpíssemos através do olhar do outro... aquele olhar que nos escuta, que acolhe as partes mais fracas e, às vezes, com um toque de firmeza, nos exorta a ver além das nossas próprias ilusões, egoísmos disfarçados, fetiches do eu.
Me sinto muito só, mergulhando numa resignação sobre o que são as amizades. E preciso desse privilégio que é a solidão. Certamente, há muita gente por perto e a memória de algumas amizades incríveis, como a daquelas pessoas que não quero (até o momento) reencontrar, mas que ainda me aquecem alguma coisa num canto do coração.
Enfim… É isso!
A vida é feita de fases, e em cada uma há momentos em que certas presenças aparecem com a certeza de que estariam ali eternamente. E, no entanto, não estavam. Não estão e, possivelmente, não estarão. Mas que fique a gratidão e, sobretudo, a memória do olhar amigável que me aceita sem máscaras, que devolve a chance de despertar e se reconhecer como alguém amado e amável.
As vezes, quando penso em quem eu pouco ou nunca encontro, vem uma necessidade de expressar gratidão por todos os momentos lindos e amáveis que vivemos.
E mesmo distantes agora fisicamente, quase sempre inevitavelmente distantes, é um alicerce de ternura que permanece.
É uma lembrança que abraça a solidão e transforma em companhia, mesmo que apenas nas formas e transbordamentos do coração.
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