Ser amigo - conto


Um homem dito sábio foi questionado o que seria a amizade, qual a importância de tal na vida dos homens. Ele levantou-se calmamente, abrasou um e outro que estavam a o seu lado, beijou a testa de uma criança e colocou-se a dizer em auto e bom tom:
                Já diz as escrituras sagradas que  se faz um amigo em tempo de paz, porém nos dias amargos que se prova o seu valor. Diz ainda que o amigo seja um baluarte fiel, e quem o encontrou achou um tesouro.  Sabedorias populares têm inúmeras teses, como: amigos é a família que escolhemos ter. Muito bonito isso não acha? – Disse o sábio pedindo a atenção e a confirmação dos que o escutavam. E continuou:
Eu não saberia dizer a importância de um amigo na vida de um homem, poderia responder por mim e por alguns que eu conheci bem a linda da vida. Mas, cada um tem a sua subjetividade, e pelo meu caminho eu vi muita gente ser sucedida justamente por nunca teve um amigo para lhe provar que ele era incapaz de conquistar seus sonhos, e talvez tivesse muitos colegas que caminharam com ele, sem muita intimidade, mas com bastante utilidade.  No caso ele nunca conheceu um amigo propriamente dito, foi julgado por muitos como o solitário, e no fundo ele era o seu melhor amigo. Não acham que isso pode ser bonito? Quem tem autoridade para afirmar: todos devem ter amigos? Às vezes bastam bons colegas. E às vezes basta a nós mesmos.
Não posso esconder que pelo caminho havia muita gente que colocava o amigo como pilares na sua existência. Muitos religiosos descobriram que a sua via até seu Deus se faz pela irmandade.
Qual desses dois casos a pessoa é mias fiz? Quem é mais realizado, aquele que tem inúmeros amigos ou aquele que não tem nem um? – Dizendo isso provocou grande tumulto entre os ouvintes. As pessoas começaram a discutir entre elas e começaram então a citar casos, e mais, davam sinais de realização, questionavam a decepção das amizades. Ao escutar isso interferiu o sábio:
Alguns reclamavam de decepção, paciência, não? Decepção é corriqueira embaixo do céu, ou aprendemos a lidar com elas ou elas nos dominam. Creio que o acostamento das estradas sirva justamente pra isso, parar na hora certa estacionar ali e revisar como vai o nosso caminhar, repor forças, abastecer e verificar se pelo caminho que temos seguido chegaremos ao ponto final esperado. Olhe, esse é fundamental a ser revisado: como temos caminhado? Estar no caminho certo e não com um certo caminhar pode não nos levar a chegada?
As amizades, ou a ausência delas, podem ser o combustível do caminho, podem ser o que tem determinado o caminho ao qual estamos... Parar e questionar o nível das nossas companhias pode ser fundamental para uma qualidade de vida? – Fez-se um silêncio encima desse pensamento. E o pensador foi indagado:
- Mas o que vale nessa vida ter ou não amigos?  Quem é mais feliz dos exemplos que falou: o rico em amigos ou aquele que é amigo de si?
- Eu não estou apto a julgar isso. Bastaria que cada qual se analisasse e questionasse até que ponto somos amigos e até que ponto temos amigos. Tem gente que nunca pensou sobre isso, nunca se importou em fazer ou cultivar amigos, e pode ser mais feliz do que aqueles que colocaram a amizade como pilar da vida.  Encontramos os amigos por utilidades. Serão seus amigos até que seja útil a eles. Podem ser as melhores companhias de uma festa. Há amigos que o tempo levará como a naturalidade mais sadia que se pode imaginar. E se tudo foi feito sem acidentes você poderá o encontrar e reviver no abraço a força daquela estima, em uma intensidade que pode te surpreender. Há amigo conselheiro, mentiroso, invejoso, alto astral, baixo astral, feio, bonito. Enfim, existem pessoas maravilhosamente diferentes e defeituosas nessa vida, e talvez ser amigo é saber acolher essas diferenças e delas extrair sabor. Como a mistura de inúmeras frutas nos rende uma salada de frutas. Amigo contribui, edifica, orienta... se é indiferente, destrói lhe conduz a contra mão, talvez não mereça ser chamado de amigo.
Mas chega de questionarmos a moralidade ética do outro e nos responderemos: Até que ponto somos amigos? Que tipo de amigo somos?
Após muito tempo de silêncio e meditação o sábio levantou a cabeça e confessou: Quando parei de pensar na amizade que eu recebia e comecei aplicar minha amizade aos outros sem esperar nada em troca, como ensinou o Mestre dos mestres, eu passei a me sentir muito mais amado. Deixei de mendigar carinho e passei a distribuí-lo, assim me afortunei como reflexo. Não é suficiente amar, é preciso se tornar amável.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Questões respondidas sobre Platão - Por prof. Ítalo Silva

Questões respondidas sobre os Sofistas – Por Professor Ítalo Silva

Questões respondidas sobre o Iluminismo