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Imagina quando crescer? Quanto a redução da maioridade penal




Reflexões na Sala de Aula

Hoje, enquanto me encontrava diante da lousa, rodeado por jovens mentes curiosas, fui invadido por uma reflexão profunda que emergiu da discussão acalorada sobre nossas realidades sociais. O calor da conversa ressoava em cada canto da sala, onde os rostos que me olhavam refletiam a diversidade das experiências e dos desafios que cada um trazia consigo. "A frase correta não é: 'imagina quando crescer...'", eu disse, tentando captar a atenção de todos. "Na verdade, o processo de compreensão é exatamente o contrário."

Imaginava, com toda a força da minha alma, a opressão que moldava a história de muitos daqueles jovens. Que problemas históricos haviam forjado suas vidas? Que sociedade os formulou e, agora, os negava? Via nos olhares de meus alunos uma mistura de indagações e receios. "Como podemos elaborar um julgamento sem considerar as complexas dialéticas que envolvem cada um deles?" continuei, sentindo que as palavras fluíam como um rio caudaloso, levando consigo a emergência desta reflexão.

Olhei para Elias, cuja voz muitas vezes se elevava em meio à discussão. "Ele não nasceu um problema social", afirmei, "mas tornou-se diariamente um reflexo das mazelas que o cercam, um produto de um contexto que se perpetua. Precisamos pensar profundamente sobre isso!" O silêncio que se seguiu era carregado de uma compreensão mútua, ainda que incerta.

A voz de Italo se destacou entre os murmúrios intrigados: "Essa mania de achar que se resolverá o problema pela punição é coisa de quem não se atreve a pensar criticamente sobre as condições da nossa sociedade." Concordei com um aceno, e a sala se enchia de murmúrios de concordância, como se cada aluno estivesse buscando a coragem para abraçar a complexidade de suas falas.

Juliette, sentada ao fundo, acrescentou com um tom de desolação: "Meu Deus, já fala como bandido. Era pra estar brincando, estudando, sendo ingênuo." Senti a tristeza em seu tom, e a pergunta ecoou em mim: como será o futuro dessa criança? Estarão eles enredados em uma teia que, em última análise, os condenará a um desfecho sombrio?

Enquanto debatia com meus alunos, lembrei-me, quase como um eco de minhas preocupações: o estado tem se esquivado de sua responsabilidade, reduzindo tudo a punições desproporcionais, em vez de investir em educação. Era lamentável.

Rafael fez uma pergunta incisiva: "Qual será o contexto cultural que essa criança se desenvolve? Quais as oportunidades que ela possui, sendo sobrevivente em uma sociedade tão excludente e elitista?" As palavras ressoaram como uma chamada à ação, e eu percebia que a reflexão não era apenas teórica, mas um pedido urgente por mudança.

"O que precisamos é ganhar a responsabilidade de possibilitar ao sujeito a oportunidade de ter sua condição humana valorizada e respeitada. A sociedade excludente é uma armadilha que perpétua a desigualdade. Precisamos tapar os buracos nas ruas, não interditá-las", eu disse, sentindo um fervor em minha voz.

Então, Elias levantou a voz mais uma vez: "Professor, minha condição também era horrível. Eu vivi a droga, a morte; meu irmão foi assassinado com nove tiros. Eu tinha tudo para dar errado, mas a escolha é de cada um." Sua afirmação trouxe um choque à sala. Cada história de vida que surgia ali encarnava a crueza da realidade fora de nossas paredes.

Italo aproveitou: "Você teve a influência de uma boa educação que lhe possibilitou fazer outra escolha, Elias. Mas você acha certo que essa criança tenha a mesma oportunidade que você teve?" Sua indagação pairou no ar, um convite à reflexão coletiva.

A conversa fluía e se expandia como um diálogo interminável, cada um trazendo suas experiências, suas dores e sua esperança. "Estamos falando, na maioria dos casos, que falta aos indivíduos essa formação que possibilita a reflexão ética", eu finalizei, ciente de que, mesmo em meio ao caos, ali estava construindo uma nova forma de conscientização.

Ao término da aula, percebi que, ao discutir a complexidade do ser humano, eu também estava explorando as dialéticas que moldavam cada vida em minha sala. O valor da educação, o respeito pelo outro, e a visibilidade das histórias individuais se entrelaçavam como um pano multicolorido, evidenciando que, mesmo nas circunstâncias mais adversas, havia sempre espaço para a reflexão, a mudança e, acima de tudo, a esperança.

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