O que seremos de nós depois do COVID19?

Estou aqui olhando para o pátio sem alunos e começo a materializar minha aflição em palavras escritas. É muito triste ver a escola vazia... Causa um sentimento de vazio abrangente.



Escola é o lugar do barulho de gente... é o espaço do movimento de fazer a vida. Talvez a manifestação de gente é o que faz da escola a esperança. Por decreto oficial e por bom senso nós nos obrigamos a paralisar. A grande máquina de produção intensa e constante do Capital é obrigada a parar. O conselho frenético, mas real-necessário, diz: evite relações sociais. Evitemos encontros.



A pandemia tornou moralmente aceito assumir que trememos de medo do grande risco que é o outro.

Trate o outro sempre como um perigo em potencial. Neste início de século e nessa hora da Globalização é lamentável reconhecer a expressa deteriorização dos afetos. Cuidado com o outro... evite contatos... paremos de conexões físicas. Usem mais as redes virtuais. Mas já não estamos nessa? Os contatos que nos humanizam são classificados como altamente nocivos. É utópico acreditar que haverá mais solidariedade nesse momento? Ou será possível que agora nos criaremos ainda mais individualistas?



 Diante desse “mal-estar na civilização”, que ao meu ver não revela nada de novo, pelo contrário, apenas deixa notório o funcionamento desajustado do nosso tempo. Na sofridão que é a vida em civilização o medo é um lugar de gozo. Falsas notícias ou informações ornamentadas pelo espetáculo são viralizadas muito mais rápidas do que o próprio vírus que nos amedronta. Nasce então um recurso da nossa gente: a divulgação de uma realidade distorcida e maximizada... a chamada grande histeria coletiva torna certo o que é duvidoso e duvidoso o que é certo.



Temos que aceitar que o século globalizado não é somente a informação que tem danos na viralização. De um lado o mecanismo de defesa dos memes e do outro a atenção ao sensacionalismo midiático. Estes horrores de polos dizem muito sobre nós e sobretudo como creditamos paradoxal valor para a vida e valor para a morte. Qual exagero compulsivo nos sequestra neste momento de pandemia? Somente pensamos em valorizar a vida na iminência de perdê-la ou não nos preocupamos tanto assim em continuarmos vivos? No pânico e na pane que a pandemia provocou talvez seja possível pensarmos sobre nós enquanto civilização globalizada. Os cientistas da área sanitarista sinalizam que os dados não são favoráveis e provavelmente vamos estender o período de isolamento social. Ou seja, temos que pensar na urgência de elaborarmos recursos fisiológicos e psicológicos de sobrevivência nesse modelo de socialização. Com os serviços e estudos realizados em nossas casas, com maior tempo de convivência familiar é preciso questionar: quais configurações a soluções da tecnologia e do calor dos corpos em convívio terão?



O COVID19 é um vírus artificial ou natural? Faz parte do biológico controle seletivo das espécies? Faz parte de mais um projeto sangrento do capitalismo? O Capital sairá mais fortalecido dessa? Em torno as diversas teorias da conspiração e da justificação eu tenho apontado para o ponto reflexivo: O que seremos de nós após o COVID19? Continuaremos os mesmos ou vamos aprender algo sobre humanidade e humanização?



Tudo isso nos arremessa para uma questão filosófica que não poderíamos nunca ter abandonado: como estamos nos (re)configurando como pessoas e como coletividades?



- por @italoalessandro em 16/mar./2020

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