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"Mania de Você" à luz da psicanálise


A expressão "Mania de Você", que também é o título de uma novela da rede Globo, pode ser abordada sob múltiplos ângulos, especialmente quando se considera a relação entre a mania em si e a violência que isso pode evocar no imaginário coletivo. 

A escolha do título "Mania de Você" sugere, em um primeiro nível de leitura sem crítica, uma paixão avassaladora que, embora possa parecer romântica, carrega consigo a possibilidade de um amor obsessivo. Na psicanálise, especialmente nas teorias de Freud e Lacan, a mania é frequentemente associada a uma intensidade emocional que pode transbordar em comportamentos extremos. 

Na psicanálise, a mania é como um daqueles convidados indesejados em uma festa: Freud a vê como o oposto da depressão, um estado emocional elevado que tenta disfarçar os conflitos internos. Para o pai da psicanálise, a mania é uma defesa que permite ao indivíduo evitar encarar sentimentos dolorosos, como um truque de mágica que faz a tristeza desaparecer momentaneamente. Assim, enquanto todo mundo tenta se divertir, a mania faz o papel de "animador de festa", mas pode acabar revelando que, no fundo, a tristeza ainda está lá, escondida atrás da cortina.

Por outro lado, Lacan entra na festa com uma visão mais filosófica e linguística. Para ele, a mania é um excesso de significantes, como se o convidado estivesse tentando falar demais para preencher um vazio existencial. Ele sugere que essa busca frenética por gozo é uma forma de escapar da falta, mas, no final das contas, pode levar a uma relação problemática com a realidade – como tentar dançar em cima de uma mesa: divertido no começo, mas pode acabar em uma queda desastrosa. Enquanto Freud se concentra nas defesas internas, Lacan nos lembra que a linguagem e a estrutura do sujeito também têm um papel fundamental nessa dança maluca que chamamos de vida emocional.

A mania, nesse contexto, não só reflete um estado de excitação elevada, mas também uma recusa em lidar com a dor e a falta. Assim, a novela, ao exaltar essa "mania", pode ser vista como uma normalização de relações amorosas que beiram a obsessão, colocando em segundo plano a violência emocional que isso pode gerar nas dinâmicas interpessoais.

Em uma análise mais profunda, a narrativa da novela pode ser entendida como um reflexo das tensões sociais contemporâneas. "Mania de Você" pode simbolizar um desejo de controle sobre o outro, onde o amor se transforma em uma obsessão que ignora limites pessoais. Essa representação encontra eco nas discussões sobre relações tóxicas que permeiam o imaginário coletivo, especialmente em um contexto em que questões de saúde mental são frequentemente minimizadas ou romantizadas. A violência, aqui, não é apenas física, mas também psicológica, manifestando-se na possessividade e na falta de respeito pela autonomia do parceiro. 

Imaginemos que terá um personagem que, consumido pela "mania de você", se vê em um turbilhão de emoções. No início, essa paixão pode parecer vibrante e fascinante, mas gradualmente evolui para um comportamento controlador e obsessivo. As cenas que revelam a violação da privacidade do outro e os ciúmes exacerbados traçam um quadro de uma relação imersa em causas e consequências que ressoam em realidades vividas por muitos. A insistência sobre a "mania" desvela um lado sombrio do amor idealizado, expondo como essas dinâmicas, muitas vezes glamorizadas na tela, podem perpetuar ciclos de violência emocional e psicológica.

Vejo que, "Mania de Você" não é apenas um título; é uma janela para mais pensarmos as complexidades das relações humanas, as nuances da psicanálise sobre a mania e as inquietantes expressões da violência no amor que permeiam o imaginário coletivo. Ao analisarmos a obra, devemos estar cientes de como o entretenimento molda e reflete as expectativas sociais em torno do amor e da possessividade, levando a uma reflexão crítica sobre a verdadeira natureza das relações.

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