Os Seminários de Jacques Lacan são uma série de textos e palestras que ele apresentou ao longo de sua carreira. No total, são 27 seminários frequentemente referidos por números e títulos. No total, 14 seminários ainda não foram publicados.
Eles são um dos marcos mais significativos da psicanálise contemporânea e foram realizados entre 1952 e 1980 em Paris. Esses seminários não apenas moldaram a prática psicanalítica, mas também influenciaram diversas áreas do conhecimento, como filosofia, literatura e teoria crítica.
Jacques Lacan, psicanalista e psiquiatra francês, é amplamente reconhecido por suas contribuições inovadoras à psicanálise. Durante quase três décadas, ele conduziu seminários anuais que se tornaram fundamentais para a compreensão de sua abordagem única e complexa. Esses encontros não eram meras aulas; eram verdadeiros espaços de reflexão e debate, onde Lacan explorava as nuances da psicanálise, da linguagem e da subjetividade.
Os seminários de Lacan são conhecidos por sua densidade teórica e por um estilo que combina rigor intelectual com uma linguagem poética e metafórica. Lacan desafiava seus ouvintes a repensar conceitos fundamentais da psicanálise, frequentemente reinterpretando as ideias de Sigmund Freud à luz de novas compreensões sobre o inconsciente e a linguagem. Ele introduziu conceitos inovadores, como a ideia de que "o inconsciente é estruturado como uma linguagem", o que provocou debates intensos e, muitas vezes, controvérsias dentro da comunidade psicanalítica.
Um aspecto notável desses seminários é que eles foram editados por Jacques-Alain Miller, um dos principais discípulos de Lacan. Miller desempenhou um papel crucial na transcrição e publicação dos seminários, garantindo que as ideias de Lacan fossem acessíveis a um público mais amplo. Essa edição não foi apenas uma tarefa técnica; ela envolveu uma cuidadosa seleção e organização do material, refletindo a complexidade e a profundidade do pensamento lacaniano.
Os seminários de Lacan não eram apenas um exercício acadêmico; eles eram também um espaço de interação e diálogo. Lacan encorajava a participação ativa de seus alunos, permitindo perguntas e discussões que enriqueciam o conteúdo apresentado. Essa dinâmica contribuiu para a evolução das ideias discutidas e para a formação de uma comunidade de pensadores críticos em torno de sua obra.
A recepção dos seminários foi variada. Enquanto muitos se tornaram fervorosos defensores das ideias de Lacan, outros levantaram críticas e questionamentos sobre sua abordagem. Essa polarização é um testemunho da profundidade e da provocação que suas ideias geraram, desafiando as noções tradicionais da psicanálise e da subjetividade.
Os seminários de Lacan continuam a ser estudados e debatidos em diversas disciplinas, evidenciando seu impacto duradouro na cultura contemporânea. Eles nos oferecem uma nova lente através da qual podemos examinar nossas experiências, desejos e a realidade que nos cerca. A obra de Lacan, portanto, não se limita a uma análise técnica, mas se entrelaça com questões fundamentais da comunicação humana e da subjetividade.
São eles:
Seminário I: Os escritos técnicos de Freud (1953-1954)
Neste seminário, Lacan investiga os fundamentos da psicanálise através da obra de Freud. Ele analisa os conceitos técnicos utilizados por Freud e a importância de seu método na prática clínica. Lacan afirma que "o inconsciente é estruturado como uma linguagem", ressaltando a relevância da linguagem na formação do inconsciente.
Seminário II: O eu na teoria de Freud e na técnica da psicanálise (1954-1955)
Lacan discute a construção do "eu" em Freud e seu papel na prática psicanalítica. Ele distingue entre o "eu" como um conceito teórico e suas manifestações na sessão analítica. "O eu é um efeito do discurso", enfatiza Lacan, mostrando como a dinâmica da transferência molda a experiência do analista e do analisando.
Seminário III: As psicoses (1955-1956)
Neste seminário, Lacan investiga as estruturas da psicose em contraste com a neurose. Ele introduz a noção de "registro do real" e discute como a linguagem falha na psicose, levando a delírios e alucinações. Lacan declara que "o delírio é uma tentativa de restaurar a conexão com o que foi perdido".
Seminário IV: A relação de objeto (1956-1957)
Lacan aborda a relação entre o sujeito e os objetos de desejo. Ele reflete sobre como objetos são significantes na formação de desejos e como a falta é constitutiva do desejo. "O objeto a é o que falta ao desejo", afirma, enfatizando a condição dos sujeitos como desejantes.
Seminário V: As formações do inconsciente (1957-1958)
Lacan explora as diferentes formações do inconsciente, como sonhos, lapsos e atos falhos. Ele analisa a relação entre o inconsciente e a linguagem, afirmando que "o significante é o que determina o sentido do inconsciente".
Seminário VI: O desejo e sua interpretação (1958-1959)
Este seminário lida com a dinâmica do desejo e sua articulação na análise. Lacan propõe que a interpretação deve focar na estrutura do desejo, não apenas em seus conteúdos. "O desejo é a força que move a psicanálise", diz ele, sublinhando sua centralidade na prática.
Seminário VII: A ética da psicanálise (1959-1960)
Lacan reflete sobre a ética da psicanálise, questionando o papel do analista e a relação ética entre analista e analisando. Ele propõe que a ética não deve ser confundida com moralidade: "A ética é o que se refere ao desejo e à sua realização".
Seminário VIII: A transferência (1960-1961)
Neste seminário, Lacan investiga o fenômeno da transferência, onde os sentimentos e desejos do analisando são projetados no analista. "A transferência é a relação fundamental que permite a ocorrência da análise", afirma, sublinhando seu papel central no processo.
Seminário IX: A identificação (1961-1962) - Ainda não publicado
Lacan explora os mecanismos de identificação e sua importância na constituição do sujeito. Ele discute os diferentes tipos de identificação e sua relação com o "eu", afirmando que "a identificação é um ponto de partida para a configuração do sujeito".
Seminário X: A angústia (1962-1963)
Este seminário analisa a angústia como uma resposta à falta e à incompletude do sujeito. Lacan distingue a angústia de outros fundamentos emocionais, afirmando que "a angústia é o que não tem significante".
Seminário XI: Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise (1964)
Lacan apresenta os conceitos centrais da psicanálise: o inconsciente, a transferência, o desejo e o gozo. Ele elabora sobre a importância dessa estrutura para a prática analítica, dizendo que "cada um desses conceitos é necessário para a formação da psicanálise como ciência".
Seminário XII: Problemas cruciais para a psicanálise (1964-1965) - Ainda não publicado
Neste seminário, Lacan aborda questões e desafios enfrentados pela psicanálise em sua prática e teorização. Ele analisa crises e impasses no campo, refletindo: "O que está em jogo na prática psicanalítica é a relação do sujeito com o saber".
Seminário XIII: O objeto da psicanálise (1965-1966) - Ainda não publicado
Lacan discute a natureza do objeto de análise no processo psicanalítico. A reflexão sobre o "objeto a" é central; ele diz: "O objeto a é a causa do desejo, um ponto de falta que opera na análise".
Seminário XIV: A lógica do fantasma (1966-1967) - Ainda não publicado
Aqui, Lacan se debruça sobre a formação dos fantasmas e sua constituição no desejo humano. Ele argumenta que "o fantasma é a estrutura que organiza o desejo".
Seminário XV: O ato psicanalítico (1967-1968) - Ainda não publicado
Lacan investiga a natureza do ato na psicanálise, procurando entender como as ações do analista impactam o processo de análise. "O ato é sempre a produção do real na análise", afirma Lacan, destacando a importância do momento analítico. (Ainda não publicado)
Seminário XVI: De um Outro ao outro (1968-1969)
Neste seminário, Lacan explora a dinâmica entre o Outro e o sujeito, e como essa relação estrutura a subjetividade. "O Outro não é apenas um campo de significantes, mas a condição de nosso ser na linguagem", diz ele.
Seminário XVII: O avesso da psicanálise (1969-1970)
Lacan reflete sobre o que está excluído da psicanálise, propondo que existem aspectos da experiência humana que não estão sujeitos à simbolização. "O avesso é o que escapa à representação", afirma, sugerindo que o real insiste nos interstícios da análise.
Seminário XVIII: De um discurso que não seria semblante (1971)
Neste seminário, ele discorre sobre a relação entre discursos e semblantes, explorando a distinção entre o que é verdadeiro e o que é apenas aparência. "Um discurso que não é semblante é aquele que revela a verdade do desejo", argumenta.
Seminário XIXa: ...ou pior (1971-1972)
Lacan provoca uma reflexão sobre as consequências do não-ser na subjetividade. Ele questiona o que significa viver em um mundo onde o desejo muitas vezes se perde em falsas promessas. "O pior é sempre a falta de um significante que não liga ao ser", enfatiza.
Seminário XIXb: O saber do psicanalista (conferências em Sainte-Anne) (1971-1972) - Ainda não publicado
Neste conjunto de conferências, Lacan compartilha seus pensamentos sobre o saber na psicanálise e a posição do analista na dinâmica da análise. "O saber do psicanalista não é um saber qualquer, é sempre um saber marcado pela falta", cita ele.
Seminário XX: Mais, ainda (1972-1973)
Lacan reflete sobre a questão do "mais" no desejo e na psicanálise, abordando a busca incessante por algo que sempre parece faltar. "O desejo nunca se satisfaz, ele se reconfigura a partir do que resta", diz.
Seminário XXI: Les non-dupes errent [Os não-tolos erram] (1973-1974)
Aqui, Lacan explora o engano e a ilusão na prática analítica e além. Ele propõe que aqueles que não se deixam enganar estão condenados a errar em suas relações. "A verdade é que, ao não se deixar enganar, eles estão perdendo algo essencial", reflete.
Seminário XXII: RSI (1974-1975) - Ainda não publicado
Esse seminário apresenta a noção de RSI (Real, Simbólico e Imaginário) como um tríplice registro da experiência. Lacan investiga a interseção entre essas três dimensões e sua relevância na análise. "A operação da psicanálise deve levar em conta essa tripartição", ele afirma.
Seminário XXIII: O sinthoma (1975-1976)
Lacan introduz o conceito de "sinthoma" como uma forma de síntese do real em relação ao simbolismo e à imaginação. "O sinthoma é o modo como o real se apresenta em jogo com o simbólico e o imaginário", explica.
Seminário XXIV: L’insu que sait de l’une bévue s’aile à mourre (1976-1977) - Ainda não publicado
Neste seminário, Lacan reflete sobre o que está subjacente ao erro e à sua relação com o conhecimento. "O que sabemos do erro é o que nos leva à nossa própria morte", diz, abordando a conexão entre saber e ignorância.
Seminário XXV: Momento de concluir (1977-1978) - Ainda não publicado
Neste seminário, Lacan discorre sobre a conclusão da análise e o fechamento do processo. "O momento de concluir é sempre uma reconfiguração do que foi conhecido", reflete ele, enfatizando a continuidade do desejo.
Seminário XXVI: A topologia e o tempo (1978-1979) - Ainda não publicado
Lacan explora a relação entre topologia, tempo e a experiência subjetiva. Ele introduz conceitos topológicos para ilustrar as estruturas do sujeito. "A topologia é uma receita para entender a estrutura do real", argumenta.
Seminário XXVII: Dissolução (1980) - Ainda não publicado
O seminário final de Lacan aborda a dissolução dos conceitos e das certezas na psicanálise. Ele reflete sobre o que permanece após a análise e o impacto do real na vida do sujeito. "A dissolução é o que permite o renascimento do desejo", conclui.
Os seminários de Lacan podem ser encontrados com facilidade, até mesmo disponível para ser acessado em pdf. Vários deles já foram traduzidos e estão disponíveis em livrarias. As traduções oficiais foram publicadas no Brasil pela editora Jorge Zahar, que atualmente faz parte do Grupo Companhia das Letras.
Os que já foram publicados são:
- Seminário I: Os escritos técnicos de Freud (1953-1954)
- Seminário II: O eu na teoria de Freud e na técnica da psicanálise (1954-1955)
- Seminário III: As psicoses (1955-1956)
- Seminário IV: A relação de objeto (1956-1957)
- Seminário V: As formações do inconsciente (1957-1958)
- Seminário VI: O desejo e sua interpretação (1958-1959)
- Seminário VII: A ética da psicanálise (1959-1960)
- Seminário VIII: A transferência (1960-1961)
- Seminário X: A angústia (1962-1963)
- Seminário XI: Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise (1964)
- Seminário XVI: De um Outro ao outro (1968-1969)
- Seminário XVII: O avesso da psicanálise (1969-1970)
- Seminário XVIII: De um discurso que não seria semblante (1971)
Esses resumos aqui oferecem uma visão geral dos seminários de Lacan, destacando conceitos-chave e citações importantes para cada um deles. Acredito que abrem um fundamento de conhecimento prévio necessário para quem quer ser aventurar na leitura e estudo deles. Por isso eu vou fazer, nas próximas semanas, publicações específicas de cada um deles com apreciações e comentários.
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