Pular para o conteúdo principal

O papel do Simbólico na dança de romantização da Subjetividade


Neste texto, exploraremos a citação apresentada de uma publicação que fiz no X: "Somos os mesmos nadas no apagar das luzes. A diferença é que na ausência de estímulo somos conduzidos a enxergar nossa condição inerente à devassidão do desamparo. Preciso permitir a Fantasia e se apegar, ainda que mínimo, na ilusão dos Simbólicos para não se sufocar com o Real." Meu esforço é para mostrar a centralidade dos conceitos sob a ótica da psicanálise lacaniana, examinando a inter-relação entre os domínios do Simbólico, da Fantasia e da noção lacaniana de Real, além de refletir sobre a condição humana de desamparo e a busca por significado. Serão incorporadas algumas máximas de Nietzsche, Lacan e Freud, fornecendo uma base teórica para os argumentos apresentados se sustentarem de forma compreensível.

Até que ponto a realidade que habitamos não é, na verdade, uma construção das estruturas simbólicas que nos cercam, moldando a nossa percepção e identidade? De que maneira o desamparo e a falta que experimentamos impulsionam nossa incessante busca por significado e nos levam a edificar fantasias ao nosso redor? Qual inocência você recebe da luta entre nosso desejo, as fantasias que criamos e o implacável real se reflete não apenas em nossa subjetividade, mas também nas inerente as relações que tentarmos inventar com os outros?

Primeiramente, é fundamental entender o contexto da psicanálise lacaniana. Jacques Lacan, ao reinterpretar os conceitos de Freud, enfatizou que a realidade é mediada pelo Simbólico, que representa a estrutura da linguagem e dos significantes. Ele afirmava que "o inconsciente é estruturado como uma linguagem”, evidenciando a centralidade da linguagem na formação da subjetividade. A citação em questão sugere que, na ausência de estímulos externos, somos confrontados com nossa própria vulnerabilidade, uma ideia que ressoa com a concepção lacaniana de que a falta é uma característica intrínseca da experiência existencial.

Seguindo essa linha de pensamento, o Simbólico é identificado como a rede de significantes que organiza a experiência subjetiva. Quando Lacan afirma que "o Simbólico é o que dá sentido à realidade", ele destaca a necessidade de reconhecer esses significantes como fundamentais para a vida emocional e social. A citação menciona a "ilusão dos Simbólicos", indicando que, embora essas estruturas possam ter uma natureza ilusória, elas são essenciais para ancorar nossa percepção de mundo e para a construção da nossa identidade.

No que diz respeito à Fantasia, podemos observar que este conceito, segundo Lacan, serve como um mecanismo de defesa contra a falta que permeia a condição humana. Lacan estabelece que "a Fantasia é o que permite que se torne suportável o que o Real tem de intolerável". Ao ressaltar a necessidade de "permitir a Fantasia", a citação ressalta que as fantasias criam um espaço onde podemos explorar desejos profundos, funcionando como um abrigo protetor contra a angústia gerada pelo desamparo.

Quando abordamos a questão do desamparo, Lacan nos fornece uma nova perspectiva ao entender que essa vivência é parte integrante da experiência humana. Ele sugere que "o sujeito é não apenas o que ele é, mas também o que não é". O reconhecimento da vulnerabilidade torna-se crucial na transição entre os domínios do Simbólico e da Fantasia. A condição de desamparo nos força a nos apoiar nas ilusões que sustentam nossa subjetividade, permitindo-nos resistir à própria falta.

Em relação ao Real, esta concepção lacaniana representa o que é impossível de simbolizar e comunicar. A citação menciona o risco de "sufocar com o Real", associando-se à ideia de que, sem uma ancoragem no Simbólico e na Fantasia, a realidade pode se tornar opressora. Freud, por sua vez, argumentava que "o desejo é a sua própria resolução"; essa afirmação reforça a ideia de que reconhecer e trabalhar com nossos desejos é vital para enfrentar o peso da realidade e suas complexidades.

Ademais, a função da Fantasia em nossa subjetividade é de grande importância. Lacan a apresenta como uma força vital que estrutura a psique. Ele argumenta que "a função da fantasia é inscrever na ausência o que nunca foi", ressaltando o papel das fantasias em trabalhar nossos desejos e enfrentar as ansiedades. Essa perspectiva nos conduz a entender que a fantasia não deve ser vista como um mero escapismo, mas sim como um meio fundamental para integrar experiências emocionais, permitindo a continuidade de uma subjetividade ativa e criativa.

Para concluir, a citação proposta provoca uma reflexão profunda sobre a condição humana através da lente psicanalítica lacaniana. A interação entre o Simbólico, a Fantasia e a luta com o Real revela a complexidade das experiências humanas e a necessidade de encontrar significado em meio ao desamparo. Nietzsche, ao afirmar que "quem tem uma razão para viver pode suportar quase qualquer coisa", nos lembra de que a construção de sentido e a esperança são possíveis, mesmo diante das realidades mais desafiadoras. Assim, analisamos a singularidade da experiência humana e a coragem de persistir em nossos sonhos em um mundo frequentemente caótico e desolador.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Questões respondidas sobre Platão - Por prof. Ítalo Silva

Questão 01  Quem foi o filósofo Platão?  É o segundo pensador dos clássicos gregos, foi seguidor de Sócrates, mestre de Aristóteles. Viveu em Atenas no século III a.C. Seus pensamentos são marcos até hoje na filosofia. Questão 02  Como foi chamado a Escola filosófica de Platão e ao que ela pretendia? Academia é a Escola de Platão, e buscava ensinar o exercício do pensar para as pessoas, a prática da cidadania política, filosofia e matemática. Questão 03  Como são e como estão divididos os escritos de Platão? São escritos em forma de diálogos. Conhecidos como os Diálogos de Platão. Estão divididos em três partes: a) Escritos da Juventude, onde relata os ensinamentos de Sócrates. b) Escritos da Maturidade e c) Escritos da velhice. Questão 04  Da Teoria das Ideias, de Platão, defina: 4.1 - Mundo das Sombras: É plano físico, onde não existe a Verdade, apenas sombras e cópias das Ideias. Tudo é mutável. 4.2 - Mundo das Ideias: É plan...

Questões respondidas sobre o Iluminismo

1)Quais são as duas principais visões sobre o iluminismo e o que elas dizem? 2)Quais são as sete ideias, tratadas em aula, que caracterizam o pensamento iluminista? 3)Qual o fundamento do Iluminismo receber o título de “Século da Luz” e “Idade da Razão”? 4)Comente sobre a tolerância e a liberdade dentro dos ideais iluministas de Estado Liberal no Iluminismo. 5)Qual o sentido de uma filosofia engajada e a expectativa de progresso defendida pelos filósofos iluministas? 6)O que é o deísmo iluminista? 7)Explique a bandeira de “Crítica ao antigo regime” como centralidade do Século da Luz. 8)Pesquise quais são os principais pensadores iluministas e qual a defesa de cada um deles. 

Questões respondidas sobre os Sofistas – Por Professor Ítalo Silva

1.      Na antiguidade, no contexto de florescer democrático grego, apareceu um grupo de filósofos chamados de sofistas. Qual o tipo de homem ideal desse período e qual era o tipo de homem ideal no período anterior? R. O ideal de homem no período socrático é o homem orador, dado as configurações de política democrática e de relações comerciais o contexto pede um homem capaz de usar bem as palavras para ter a sua nobreza. Isso é o superar do idealizado pelo período anterior, chamado período pré-homérico, onde o ideal de homem era o da força física, ou seja, o homem guerreiro em uma sociedade aristocrática.  Os sofistas, enquanto mestres da retórica, vão ao encontro da formação argumentativa desse novo homem pulitizado e comerciante que encontra sentido para as coisas na efetiva atividade pública no bom uso da técnica da oratória.  2.       2.Quais são os dois significados de sofistas? R. Dois significados são apresentados quanto os...