O planejamento educacional, assim como a prática docente, deve ser compreendido como um processo dinâmico e em constante transformação. Conceber o ensino sob uma perspectiva crítica e reflexiva implica reconhecer que a realidade educativa não é fixa, mas permeada por simbólicos, imaginários e reais que se entrelaçam.
A dialética do planejamento, com o devido enfoque crítico, exige que se reflita sobre a prática para que se possam realizar as intervenções necessárias que promovam mudanças efetivas (SAVIANI, 2003). Frente ao paradoxo de um sistema educativo que subsiste em um contexto de transformações sociais, a flexibilidade se torna uma característica essencial do planejamento educacional, permitindo adequações nas ações propostas em resposta à realidade multifacetada que nos cercam.
Refletir sobre a prática é, afinal, um ato de ousadia, ou seria um desejo inconsciente de romper com a repetição? O ensino deve ser uma prática que instiga a reflexão e, por conseguinte, a inovação. Essa reflexão, quando fundamentada nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), revela que a participação do estudante não está subalterna à intervenção do professor, mas sim inter-relacionada em um espaço dialético onde saberes e fazeres se entrelaçam.
Assim, o papel do professor não é apenas de transmitir conhecimento, mas de ser um mediador da aprendizagem, que escuta e dá voz ao sujeito estudante, conforme sugere a teoria lacaniana, onde o sujeito se constitui pela intersubjetividade no encontro com o outro (LACAN, 2002).
A proposta trazida pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) é a de que a igualdade de condições para o acesso e a permanência na escola deve ser um princípio orientador em nosso sistema educativo.
No entanto, como pode ser acolhida a diversidade em um espaço que insiste em padronizar práticas e conhecimentos? A LDB, em sua essência, clama por equidade, mas a realidade se depara com as armadilhas de um ensino que muitas vezes se afasta do reconhecimento das singularidades dos sujeitos. Seria a escola um lugar de inclusão, ou uma mera reprodução de valores dominantes?
O currículo, nesse contexto, é um conceito que dá voz às contradições. Por um lado, é um instrumento de controle social, regulador das experiências pedagógicas; por outro, é um espaço potencial de emancipação, como preconizado por Saviani (2003), que deve ser construído coletivamente.
A construção do Projeto Político-Pedagógico (PPP) é uma das formas de se engajar nessa empreitada. Um projeto que, como enfatiza Luck (2009), deve encorajar a participação da comunidade escolar e refletir as necessidades locais; caso contrário, não passará de uma formalidade burocrática.
Neste sentido, os Parâmetros Curriculares Nacionais provocam a pergunta: qual é a real função do currículo na formação dos sujeitos? Se considerarmos que o currículo deve servir para a construção do conhecimento e da cidadania, é crucial que nele se contenham não apenas conteúdos técnicos, mas também uma crítica às relações sociais que o cercam.
A educação deve ser pensada como um instrumento de transformação, engendrando sujeitos críticos que possam intervir em sua realidade — ou, nas palavras de Libaneo (2005), uma formação de cidadãos que reconhecem seus direitos e deveres na sociedade. Para tal, a educação precisa significar mais do que a mera transmissão de informações, mas a construção de um laço social que possibilite a troca, a interação e a reflexão.
Por que ainda nos deparamos com escolas que não conseguem atender às demandas dos jovens contemporâneos? O desafio é construir um currículo que dialogue com a cultura contemporânea, que considere as especificidades locais e que seja flexível o suficiente para se adaptar às realidades que se modificam rapidamente. Um currículo que ignora sua historicidade e as interações sociais perde sua funcionalidade e se torna empático, descolado das vidas que toca (SACRISTAN, 1998).
Em síntese, qual é a educação que se pretende construir em meio a um mar de incertezas e mudanças contínuas? O que está em jogo no planejamento educacional é, antes de tudo, uma luta pelo reconhecimento das diversidades e pelo compromisso de atender às necessidades de todos os sujeitos envolvidos. Assim, a educação não deve ser uma simples reprodução de saberes, mas um campo de potencialidades onde cada voz, a partir de suas raízes e vivências, é ouvida e respeitada.
Considerações Temporárias
Diante da complexidade do contexto educacional contemporâneo, é imperativo que a gestão e o planejamento educacional sejam considerados formas de emancipação social e cultural. A construção coletiva do currículo nos propõe um espaço vital para a formação de cidadãos críticos e conscientes de seus papéis na sociedade. Professor e estudante se constituem como parceiros em um processo ritualístico onde a educação não apenas reproduz saberes, mas transforma realidades. Portanto, uma educação de qualidade é aquela que se constrói no diálogo constante entre as necessidades sociais e a prática pedagógica efetiva, fundamentada na pluralidade e na flexibilidade.
Referências
ANDERSON, P. As origens da pós-modernidade. Rio de Janeiro: Zahar, 1999.
LACAN, J. O Seminário: Livro 1 – Os escritos técnicos de Freud. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2002.
LIBANEO, J. C. Didática. São Paulo: Cortez, 1994.
LUCK, H. Gestão educacional. Uma questão paradigmática. Petrópolis: Vozes, 2008.
SAVIANI, N. Saberes escolares, currículo e didática. Campinas: Autores Associados, 2003.
SACRISTAN, J. G. Currículo: um desafio para a educação. São Paulo: Cortez, 1998.
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