As hipóteses que criamos tentando elaborar o movimento do outro... ah, esses labirintos de uma estranheza que conhecemos tão bem. Elas desviam dos fatos, sim, mas fazem algo ainda mais perturbador: expõem os fatores secretos de nossas próprias elaborações, como quem acende uma vela e descobre que iluminava não o quarto escuro, mas o próprio rosto refletido no espelho.
Ele fez isso? Foi isso mesmo que ele quis dizer? O que digo quando escolho continuar chorando sozinho? E se eu perguntar, se me atrever a perguntar e ele me disser que foi ou que não foi... essa resposta simples será suficiente para quebrar os nós da minha impressão, ou apenas criará nós mais apertados? Porque a expressão das minhas interpretações, percebo agora, diz muito mais sobre meu ego procurando respostas de alívio, procurando alicerces onde talvez só devesse haver movimento.
A dúvida... não será ela mais certeza do que o risco terrível de ser olhado pelo abismo que eu mesma olho? Arriscar chegar na desilusão pode apagar o que desejo reviver em cada amanhecer? Você sabe aquele tatu que se cristaliza em proteção quando tocado? Sabe aquela situação esclarecida que pode obscurecer justamente a luz que em mim reluz? Aquela mentirinha doce que dá borda ao amorzinho, aquela ilusão deliciosa que provoca empolgação... é tão saborosa que quase não importa se é verdade. E aquela covardia silenciosa, aquela que no mistério mais quieto procura me fazer quem procuro ser... será ela também uma forma estranha e controvérsia de coragem?
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