A velha lição helenista da filosofia cínica sussurra, como um grito distante, que a felicidade se encontra na renúncia, na arte de não possuir. É uma promessa velada que se apresenta como via para desvendar a angústia da ilusão da posse. No entanto, quem seria eu sem a intensidade das questões que valorizo?
Aqueles dilemas familiares e anseios que, como raízes, se entranham em minha essência, tecendo a trama do meu ser. Há uma beleza inquietante em percepcionar que o preço da ataraxia, esse ideal estado de paz, parece ser o desprezo absoluto. Mas será o desprezo mesmo possível? Pode um coração pulsante abrigar a serenidade total, quando a vida é feita de nuances, de amores e desapontamentos que nos moldam com a força de um fogo que consome?
Quem sou eu, senão um ser forjado na labareda da experiência, um pedaço vivo do ardor que me consome? O desejo e a frustração andam de mãos dadas, e é nessa ambivalência que a vida realmente pulsa. Cada paixão assume a forma de uma chama que não apenas aquece, mas queima e, paradoxalmente, traz uma clareza surpreendente. No ato de me definhar, descubro que essa própria intensidade é o que dá sentido à existência — essa dança do viver, onde a dor e a alegria se entrelaçam como amantes inseparáveis. Ah, mas há um elemento inesperado que se insinua: é no reconhecimento da fragilidade que resido em cada escolha, nas meandros da entrega e da renúncia, que percebo que o verdadeiro poder não está em controlar, mas em se deixar ser.
Pois cada lembrança e cada desejo são os contornos que pintam minha humanidade — e nesse espaço incerto entre ter e não ter, entre querer e desconstruir, reside a verdadeira liberdade. É ali, nessa intersecção, onde a dor é aliviada pela beleza crua da entrega, que habita a revelação impactante: o amor por si mesmo, em sua forma mais pura, é um ato de coragem em um mundo que insistentemente nos pergunta: “o que você está disposto a perder para realmente viver?”
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