Acho que tenho reorganizado os afetos, como se fizesse arrumações em um armário íntimo, onde guardo as lembranças e os desejos. Há um movimento sutil em mim, uma dança silenciosa entre a necessidade de me proteger e o arrobo de me entregar. Não é sobre o medo de te perder, mas sobre o inverno que, de repente, se instala em mim, gelado e palpável, na incerteza de um amor em que se respira a fragilidade e a força do que vivemos. O medo, ah, esse velho conhecido, parece simplesmente vestir-se de outras cores, outras formas.
Talvez seja o receio de perder a memória, essa camada leve que acobre minhas fantasias onipotentes, onde cada carinho seu se transforma em uma constelação brilhante e radiante. Às vezes, sinto que não é insegurança, mas um zelo profundo, um guardião carinhoso da preciosidade do afeto que devo a ti, um afeto único, quase sagrado, que brotou como um acaso entre as dobras do cotidiano. A sorte indescritível de ter esbarrado minha história na sua, como se o universo estivesse coordenando essa colisão de destinos, gerando um brilho que não posso ignorar.
E, assim, ao te imaginar, não é a perda que me amedronta, mas a ideia de um dia acordar e não sentir mais o pulsar vibrante da expectativa. O temor é da vida sem o sopro terno daquela sensação de que, em um instante breve, você estará, novamente, ao meu lado. O desassossego se revela no abandono de um carinho que, em sua intensidade, me desvela e me reinventa.
No entanto, essa estranheza do amor, onde mesmo a felicidade parece dividir espaço com a inquietação, me desarma. Me encantei com a ideia de dividir meu tempo com você, como se o tempo, em sua essência, pudesse se desdobrar e se multiplicar em pequenas alegrias compartilhadas. Em cada riso, em cada olhar, a sensação de que o mundo se alarga na presença do outro. Aqui está o amor, trazendo consigo a beleza única de saber que sou eu, e ainda assim uma parte de algo maior, um mosaico de afetos que se entrelaçam.
E ao refletir sobre essa dança de sentimentos, é impossível não perceber que o verdadeiro temor reside na possibilidade de ser apenas eu, sem você — como uma flor que se fecha, sem a luz do sol que a faz brotar. O afeto, na sua forma mais pura e crua, ganha vida nas minúcias do dia a dia. E assim, neste amor que se desvela, talvez não se trate somente da perdida da presença, mas da imensidão do que isso representa: um aprendizado sobre a beleza de ser e estar, juntos, nessa aventura que é a vida.
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