Sobre Ética: essencialismo, Nietzsche, existencialismo e Kant



SOBRE A ÉTICA ESSENCIALISTA GREGA

1. O que é o essencialismo grego?
O Essencialismo é uma doutrina filosófica segundo a qual os particulares (pessoas, cadeiras, árvores, números, etc.) têm pelo menos algumas propriedades essencialmente, isto é, uma natureza própria. Os clássicos gregos, Sócrates, Platão e Aristóteles são tidos de essencialistas. As primeiras ideias filosóficas essencialistas do foram defendidas por Sócrates, argumentadas pelos diálogos de Platão, inclusive com atribuições metafísicas, e por fim teorizadas como questão teleológica por Aristóteles.

2. Partido desta doutrina filosófica essencialista, no que toca a ética (comportamento), descreva a colocação de Platão sobre como se dá a felicidade humana.
Para Platão, nós somos felizes quando vivemos de acordo com nossa natureza e não somos forçados a viver contra ela. Para garantir a felicidade de uma cidade, portanto, seria necessário possibilitar aos cidadãos o autoconhecimento, isto é, o conhecimento de sua própria natureza, com suas qualidades e suas habilidades.

3. Narre sobre o idealizado por Platão sobre a educação como formação do caráter na cidade justa.
O conhecimento da natureza de cada um seria obtido pelo processo educativo. Na cidade ideal pensada por Platão, as crianças, ao nascerem, seriam entregues aos cuidados do Estado e todos receberiam a mesma educação, baseada em ginástica para bem formar o corpo e música para bem formar a alma. Na medida em que elas avançassem no processo de instrução, seriam também observadas pelos adultos, seus educadores, que deveriam reconhecer aos poucos no comportamento de seus pupilos a natureza ou o caráter de cada um.

4. Platão afirmou que cada um de nós tem um temperamento, que é a forma como as três almas se temperam, se misturam, com uma delas predominando. Segundo ele, quais são as características do:
a) caráter concupiscível: predominam os desejos, as paixões. A pessoa com esse caráter pensa,se emociona, mas sua vida é controlada pelos desejos. Quando precisa decidir alguma coisa, é a impulsividade do desejo que prevalece.
b) caráter irascível: predominam as emoções. Uma pessoa com caráter irascível também deseja, pensa, mas suas decisões são tomadas com base na emoção.
c) caráter racional: predomina a razão. O caráter racional não torna a pessoa fria e insensível; ela deseja, ela se emociona, mas suas decisões são sempre tomadas de forma racional, de maneira muito bem pensada e avaliada.

5. Descreva qual o ideal de caráter humano para Platão.
Segundo Platão, a condição ideal para o ser humano é o predomínio de um caráter racional, a situação em que a alma racional controla nosso corpo, não negando os desejos e as emoções, mas dosando-os, organizando-os de acordo com o pensamento e o planejamento. Ele reconhece, no entanto, que nem todos os seres humanos são assim.

SOBRE A INVERSÃO DOS VALORES NA PERSPECTIVA NIETZSCHIANA
1.  Narre sobre o que filósofo Nietsche reflete sobre a moral como uma prescrição de formas de agir com base em valores considerados universais.
Ele afirma que os filósofos sempre se preocuparam em encontrar os fundamentos da moral, isto é, os valores básicos que garantem a existência de uma moral, mas nenhum deles preocupou-se com a própria moral, uma vez que ela sempre foi considerada como dada. Nietzsche lança então seu desafio: é sobre a própria moral que se precisa pensar, compreendida na história, analisada em suas origens? 
2. Descreva o que é a Ética de Rebanho segundo o filósofo Nietzsche
Para Nietzsche, predomina na história ocidental (judaico-cristã) aquilo que ele chama de uma “moral de rebanho”, isto é, um tipo de ação em que grandes grupos seguem um líder. Segundo ele, o princípio bastante conhecido de que “a união faz a força” é a expressão de uma moral de fracos, pois os indivíduos fortes por si mesmos não precisam se unir. São os fracos que procuram seus iguais e vivem sob as ordens de um comandante, um “pastor de rebanho” que mostra a todos o caminho a seguir.

3. O pensamento nietzschiano exposto em “A Genealogia da Moral” busca a origem da moral ocidental. Analise quais são as principais teses desta obra.
A moral racionalista foi erguida com finalidade repressora, e não para garantir o exercício da liberdade. A moral racionalista também transformou tudo o que é natural nos seres humanos em vício, falta e culpa, castigando qualquer transgressão. Bem e mal são invenções da moral racionalista. A moral dos ressentidos, baseada no medo e no ódio à vida, inventa uma outra vida, futura, eterna, aos que sacrificam seus impulsos vitais.

4. “Se Deus não houvesse morrido era preciso mata-lo.” Qual é a crítica de Nietzsche sobre a moral expressada nesta frase.
Na civilização ocidental, a religião em geral, e o cristianismo em particular, para Nietzsche, estão em um declínio irreversível. As pessoas perderam um referencial geral para seguirem um modelo de comportamento.  Esta questão, segundo ele, se dá na esfera: política, filosofia, ciência, literatura, arte, música, educação, vida social cotidiana, e as vidas espirituais interiores dos indivíduos. Sem um ideal máximo as pessoas passariam a elaborar uma moral humana e não mais pautada na negação dos desejos da vida.

5. Para Nietsche por que o comportamento moral cristão o faz como fraco?
O Ideal platônico/socrático conduz a vida para a negação de si mesmo. A moral cristã, que é herdeira da filosofia grega (racionalismo, platonismo-idealismo), fez super valor para a razão, colocando o sujeito como um ser submisso e sofredor das ideias que serve. O Homem é entendido assim como um fraco. Essa crítica é chamada de moral do Fraco: Moral do Servo. Nietzsche afirma que todos os seres vivos são animados por um impulso vital que ele denomina “vontade de poder” ou “vontade de potência”. O caráter ativo está presente nos indivíduos que são capazes de afirmar a si mesmos por meio da ação. Nas palavras de Nietzsche, são aqueles que conseguem “dizer um grande sim à vida” e a vivem de forma intensa.  Já o caráter reativo é o do indivíduo que não é capaz de afirmar a si mesmo senão por meio da negação do outro. Ele não age, mas reage às ações do outro. Por isso Nietzsche identifica o cristão como fraco: sua ação é uma ação fraca, uma reação.  Para ele o idealizado no mundo ocidental provém de uma inversão de valores, que passou a considerar o fraco como melhor que o forte.

6. Nietzsche, na teoria de Transvaloração dos Valores, utiliza das figuras dos deuses antigos: Apolo e de Dionísio. Descreva quais são os sentidos simbólicos destes deuses na crítica moral de Nietzsche sobre a sociedade greco-romana-judaico-cristã.
O significado de apolínio é a razão ordenadora e do dionisíaco é a pulsão das emoções e criatividade.  Segundo Nietzsche a tradição filosófica valorizou Apolo em negação a Dionísio, sobretudo por pautar o comportamento humano em questões idealizadas e negar o lado selvagem dos humanos. Para Nietzsche o valor da vida em si se faz na consideração harmônica entre o lado apolínio e o lado dionisíaco.

SOBRE O PROBLEMA DO VALOR E DA LIBERDADE NA OBRA DE SARTRE - ÉTICA EXISTENCIALISTA

1. O filósofo Jean-Paul Sartre, no existencialismo filosófico do século XX, define o entendimento de que “a existência precede a essência”. Descreva qual é a centralidade desta afirmação.
A consciência é a realidade do ser humano, único ser consciente no mundo. A frase significa que o homem primeiramente existe, se descobre, surge no mundo; e que só depois se define. O homem, tal como o concebe o existencialista, se não é definível, é porque primeiramente não é nada.

2. Fale o que é, para Sartre o “ser do valor”, como uma produção da consciência.  
Para Sartre, o humano é um ser consciente, e o valor é a forma de ser da consciência. Os valores não são, portanto, referentes a essência dada por natureza e sim construídos a partir da existência. Com isto os conceitos morais são relativos aos aspectos históricos e sociais. Em sua concepção, valor e vontade têm a mesma “estrutura de ser”. Ao afirmar isso, ele está se referindo à noção de falta, que acredita ser o elemento comum àqueles dois conceitos. Segundo o filósofo, nós atribuímos valor àquilo que nos falta, da mesma forma que temos vontade daquilo que não possuímos, pois se temos essa coisa não a desejamos.

3. Segundo Jean-Paul Sartre examine o processo que um ser transcende seu próprio ser, indo além de si mesmo.
Mediante o processo do vazio é que o humano retorna a si e novamente lança-se à busca, para preenchê-lo, como fazemos diante de desejos ainda não saciados, que se renovam e reascendem, assim que o sentimento de satisfação se torna frio e evanescente. Sendo essa a própria fisionomia do ser da consciência humana, esse processo constante de escolha consiste em uma necessidade.
4. Segundo Jean-Paul Sartre articule a questão de liberdade e escolha.
Não há nada que possa eximir o homem da sua condição de ser livre e, consequentemente, da sua condição de responsabilidade diante de seus atos. Sartre diz que a pessoa humana é condenada em ser livre, ou seja, escolher um sentido/significado para o mundo que em si não tem nenhum sentido previamente definido. O mesmo se dá sobre os valores. Cada um elege por escolha os seus valores morais.

5. Segundo Jean-Paul Sartre explique o conceito de má-fé.
A má-fé é a adesão por valores/sentidos pré-determinados pois isto seria uma covardia humana que ao invés de elaborar valores/sentidos procura reproduzir o que lhe foi passado. Sartre considera o “valor universal” uma abstração irreal usada com a finalidade de manipular as consciências e a realidade humana. Ao longo da história humana, legisladores morais de todos os tipos aviltaram a liberdade humana em nome de um poder absoluto e da exploração. Sua ação sempre foi facilitada pela angústia existencial que sentimos frente ao nada de nosso ser e, para fugir a tal angústia, aderimos – de “má--fé” – a qualquer identidade externa que nos seja oferecida pelos moralistas de plantão.


SOBRE DEFINIÇÕES DE ÉTICA NAS FILOSOFIAS MODERNAS E A CRÍTICA DE KANT

1. “O imperativo categórico é, portanto só um único, que é este: Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal.” (KANT). Explique a máxima do princípio do imperativo categórico para a filosofia moral de Kant.
A máxima que rege a ação pode ser universalizada, ou seja, quando a ação pode ser praticada por todos, sem prejuízo da humanidade.

2. A filosofia de Kant defende uma Ética Deontológica, que vem do grego Deon, que significa “dever”. Narre o entendimento kantiano sobre tal ética.
A doutrina moral de Kant é independente de qualquer sentido religioso. Sua moral exclui a noção de intenção como elemento de uma alma pura, e o dever não é uma obrigação a ser seguida em virtude de um ente superior.

3. Em Kant a intenção e dever dependem do sujeito epistemológico (eu transcendental) e não do eu psicológico (indivíduo). Explique o que é o sujeito transcendente para Kant.
Para Kant, o sujeito transcendental trata-se de uma maquinaria (aparelho cognitivo) subjetiva, universal e necessária (presente em todos os homens, em todos os tempos e em todos os lugares). Assim, todo ser saudável possui tal aparato, formado por três campos: a razão, o entendimento (categorias) e a sensibilidade (formas puras da intuição-espaço e tempo). Cada sujeito tem um alarme acionado na sua consciência moral que evidencia o que há de contradição.



- textos fundamentados a partir do livro didático: GALLO, Silvio. A filosofia e seu ensino: conceito e transversalidade. Filosofia no ensino médio. Temas, problemas e propostas. São Paulo: Loyola, p. 15-36, 2007.

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