Você se cria como personagem para o outro apaixonar?
Arthur
Schopenhauer (1819) inclinado para a visão moderna procura, a partir da
filosofia de Kant, dizer que não conhecemos o sujeito/objeto e sim a
apresentação dele para nós. Assim há dois aspectos do mundo que geram mundos
distintos: o mundo como vontade e como representação. O aspecto da vontade é a
crueldade da coisa crua, ou seja, o ser em si... a coisa em si. Já o mundo como
representação é o que temos colocado por nosso personagem em atuação.
O mundo sendo
minha representação é também a limitação da minha perceptiva de abstração do
que suponho conhecer. O que olham e o que narram é a partir daquilo que foi
enquadrado em intuição tempo e intuição espaço. Segundo Schopenhauer o que
fundamenta nossas representações é o impulso de nossas vontades que escampam os
cálculos da racionalidade e dos idealismos.
Somos pessoas somente
quando somos subjetivados em alguma narração afetiva e/ou narração institucional.
Nossas narrativas representativas são os mecanismos pelos quias entramos no
mundo enquanto um outro mundo que é a trajetória a ser afirmada e/ou negada
quando editada nos rastros de repetições. Os primórdios da narrativa que sou,
estou e represento são guiados pelo eco da narração que fizeram para nós, sendo
assim, passamos de meramente narrados para sujeitos que se valem da possibilidade
de se narrarem.
Nesse conflito
paradoxal gerado na vontade é que marcamos uma suposta identidade. A metáfora de
identificar ou não com o texto que nos foi dado, na motivação do misto entre a frustração
e a insatisfação perene, inventamos e constantemente reeditamos uma pessoa
personagem naquilo que olhamos e narramos.
Dito isto, quando
se trata de constatar a substância da solidão, podemos acreditar que fazemos os
laços com outros solitários, mas não precisamos para tanto nos diluir ou fundir
no desejo/vontade do outro. Muitas vezes na procura de comprovar a crença de
que somos imperfeitos e incompletos é que procuramos olhar e narrar uma relação
com finalidade de suprir o que falta. Essa estratégia roteirista de aprovação
em atuação formula os relacionamentos inventados que acontece entre personagens
geralmente igualmente inventados.
Ao fazermos laços
negociamos a representação que usamos como atuação/mundo. Exercite autocrítica
para se implicar nos pontos que você validou. Validação esta que se concretiza como
requisito posto por força de ordem direta e/ou por chantagens simbólicas
indiretas.
Pense...
- quem fez
laços com você encontrou a atuação de uma versão que foi elaborada a serviço da
expectativa dele mesmo?
- o seu medo de
‘não viver o amor’ te leva a se criar como uma pessoa agradável a esse alguém
que supostamente faria você correr da angústia da solidão?
- o roteiro de
representação da sua personagem é manobrado com cálculos fundamentados em quais
vontades?
- o outro
disse amar você ou amar as ilusões que você preparou para se representar diante
dele?
- aquilo que você
negou em si em vista da aprovação do outro foi troco de alguma exigência (verbalizada
ou apenas performada)?
Talvez não
sejamos responsáveis de nenhuma forma pela maneira que o outro narra sobre nós
pois cada um desenvolve a própria representação, porém é preciso reconhecer e
responsabilizar com o que é nosso na atuação representativa que o outro
encontrou e reproduz.
Por @italoalessandro
– 05/08/2020.
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