Fenômeno das Posições Antagônicas e Antagonistas do indivíduo frente aos Objetos na Psicanálise
Na psicanálise, o "fenômeno das posições antagônicas" refere-se ao conflito um tanto inevitável, dado que é estrutural, entre o sujeito e os objetos (pessoas, figuras internalizadas, representações simbólicas ou elementos pulsionais) que mobilizam seu psiquismo. Tenta visualizar objetos nessa abstração para conseguir supor questões que isso abre na compreensão de como essa a relação esclarece bastante sobre a performance, em grande parte contraditória e confusa, que cada qual é capaz de entregar. Essas relações antagônicas manifestam-se como uma dialética entre desejo e repúdio, atração e rejeição, construindo a dinâmica psíquica que Freud chamou de ambivalência. Cabe lembrar que ele, doutor Freud, por mais que bastante grande, apenas explica o fenômeno e não o inventa. Se for para falar da criação disso precisamos recorrer ao Nietzsche sobre as hipocrisias no cristianismo que tem raiz na Filosofia Grega. Lacan, por sua vez, estruturou essa tensão como inerente à condição humana, pois o sujeito é dividido ($) entre o simbolizado (registro simbólico) e o irrepresentável (registro do real).
Freud destacou que o indivíduo está em constante funcionando na relação de conflito com seus objetos pulsionais, pois o Ego (moeda psíquica) medeia as demandas do Id - isso... (pulsões) e do Superego (leis internalizadas).
Um exemplo quase clássico é o que encontramos no âmago do Complexo de Édipo. Nele é onde a criança oscila entre amor e hostilidade pelo progenitor do mesmo sexo (considerado rival ao mesmo tempo que inspiração de saída) e desejo pelo progenitor oposto. E tantas vezes fica até indivisível amor de ódio. Tentando fazer entender isso Lacan até faz a junção dos dois termos: amorodio.
O conceito de 'amorodio' que Lacan introduce revela a complexidade das relações humanas, onde o amor e o ódio não são sentimentos opostos, mas sim dois lados de uma mesma moeda emocional, essenciais na construção da subjetividade; a interdependência desses afetos denuncia o caráter ambivalente do desejo, que nunca se satisfaz, mas se renova na dialética do que se ama e do que se teme.
Ao articular o amor e o ódio sob o termo 'amorodio', Lacan nos convida a refletir sobre a impossibilidade de separação entre desejo e frustração na experiência humana, evocando a ideia de que cada relacionamento é permeado por uma matriz de contradições que alimentam tanto a paixão quanto a repulsão — um fenômeno em que o amor verdadeiro só pode florescer na aceitação da falta inevitável e da vulnerabilidade do outro...
Essa ambivalência gera uma posição antagônica que, se não elaborada, pode fixar-se em sintomas (neuroses obsessivas, onde o sujeito, geralmente, alterna repetidamente, entre compulsões e proibições).
Comumente encontramos na clínica, por exemplo, paciente que deseja reconhecimento profissional (pulsão de sucesso) mas sabotaa-se, na espiral de repetições, por medo de superar o pai (interno como figura do Superego). Um barqueiro tentando remar para rumos diferentes ao mesmo tempo. Em si não seria um problema sério se tudo não precisasse de muitos sintomas para esconder as penas que o Superego encarrega de convocar.
Klein enfatizou que objetos parciais (como o próprio seio materno) são internalizados como "bons" ou "maus", gerando uma relação antagônica primária. A criança, por exemplo, alterna entre gratidão (quando o seio sacia) e ódio (quando frustra em alguma medida). Essas posições, chamada por ela de esquizo-paranoides e depressivas, são formas de organizar o caos psíquico de experimentamos de primeira mão como bebezinhos e depois repetimos em nível distinto, mas igualmente angustiante para muitos.
Um exemplar clínico sobre é um adulto com transtorno borderline que idealiza o parceiro ("objeto bom") em um momento e o desvaloriza ("objeto mau") no seguinte, reproduzindo a cisão infantil.
Para Lacan, o antagonismo é inerente à constituição do sujeito, pois este é 'barrado' (sujet barré) pelo simbólico. O 'objet petit a' — objeto causa do desejo — é inalcançável, gerando insatisfação estrutural. O sujeito oscila, na ótica lacaniana, entre a busca desse objeto e a recusa de sua falta, criando uma posição antagonista frente ao próprio desejo.
Na ficção sociocultural, em grande escala e estrago, temos a compulsão por consumo em indivíduos que perseguem objetos (carros, status) como substitutos do *objet a*, mas nunca preenchem o vazio.
Mas como compreender profundamente o Fenômeno? Vamos ver alguns dos diversos métodos possível de se percorrer em busca dessa busca.
Método 1: Análise das formações do Inconsciente. Atos falhos, sonhos e sintomas revelam os antagonismos. Por exemplo, um sonho repetitivo onde o sujeito luta contra um "inimigo desconhecido" pode simbolizar seu conflito com um objeto internalizado (o pai autoritário).
Uma paciente que sonha repetidamente com uma porta trancada descobre, em análise, sua resistência a enfrentar o luto pela mãe (objeto perdido). O que encontramos de suposições sobre o outro lado das portas?
Método 2: A Dinâmica Transferencial
Na relação analista-analisando, os objetos antagônicos se atualizam. Por exemplo, um paciente que alterna entre idealizar e desdenhar o analista está reeditando, talvez, a sua relação ambivalente com figuras parentais.
Método 3: A escuta lacaniana crítica que considera os abismos do Entre-Dizer.
Lacan propõe que o antagonismo se revela nos "pontos de falha da fala". É nesse deslize que podemos ver onde o sujeito hesita ou se contradiz. Uma frase, muito comum inclusive, como "Amo minha esposa, mas sufoco com suas exigências" expõe o conflito entre o desejo amoroso e a rejeição à perda de liberdade.
E talvez, para sair da ilusão de buscar resposta simples ao que é substancialmente complexo, precisamos pensar com um tanto mais de profundidade no antagônico e, seguramente, praticar identificar tudo isso no que importa na vida prática.
Nas redes sociais, inclusive, muitos usuários seguem e atacam as mesmas figuras públicas (influencers, políticos). Esse movimento ambivalente "adorar" e "cancelar" é uma 'projeção de objetos internos antagônicos': a figura pública torna-se um 'objeto transicional' para externalizar conflitos inconscientes (inveja mascarada de crítica moralista).
As posições antagônicas são condição estruturante do psiquismo, não patológicas em si. A psicanálise as compreende como motor do desejo e da subjetividade. Elaborar esses antagonismos exige reconhecer que o conflito não é para ser eliminado, mas trabalhado. Como propôs Freud ao dizer que "o homem é uma máquina de produzir angústia, mas também de sublimá-la.
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