A velha lição helenista da filosofia cínica sussurra, como um grito distante, que a felicidade se encontra na renúncia, na arte de não possuir. É uma promessa velada que se apresenta como via para desvendar a angústia da ilusão da posse. No entanto, quem seria eu sem a intensidade das questões que valorizo? Aqueles dilemas familiares e anseios que, como raízes, se entranham em minha essência, tecendo a trama do meu ser. Há uma beleza inquietante em percepcionar que o preço da ataraxia, esse ideal estado de paz, parece ser o desprezo absoluto. Mas será o desprezo mesmo possível? Pode um coração pulsante abrigar a serenidade total, quando a vida é feita de nuances, de amores e desapontamentos que nos moldam com a força de um fogo que consome? Quem sou eu, senão um ser forjado na labareda da experiência, um pedaço vivo do ardor que me consome? O desejo e a frustração andam de mãos dadas, e é nessa ambivalência que a vida realmente pulsa. Cada paixão assume a forma de uma chama que não ape...