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Mostrando postagens de novembro, 2025

Ardor que me define me definhando - Poetizando

A velha lição helenista da filosofia cínica sussurra, como um grito distante, que a felicidade se encontra na renúncia, na arte de não possuir. É uma promessa velada que se apresenta como via para desvendar a angústia da ilusão da posse. No entanto, quem seria eu sem a intensidade das questões que valorizo? Aqueles dilemas familiares e anseios que, como raízes, se entranham em minha essência, tecendo a trama do meu ser. Há uma beleza inquietante em percepcionar que o preço da ataraxia, esse ideal estado de paz, parece ser o desprezo absoluto. Mas será o desprezo mesmo possível? Pode um coração pulsante abrigar a serenidade total, quando a vida é feita de nuances, de amores e desapontamentos que nos moldam com a força de um fogo que consome? Quem sou eu, senão um ser forjado na labareda da experiência, um pedaço vivo do ardor que me consome? O desejo e a frustração andam de mãos dadas, e é nessa ambivalência que a vida realmente pulsa. Cada paixão assume a forma de uma chama que não ape...

Talvez não era medo - Poetizando

Acho que tenho reorganizado os afetos, como se fizesse arrumações em um armário íntimo, onde guardo as lembranças e os desejos. Há um movimento sutil em mim, uma dança silenciosa entre a necessidade de me proteger e o arrobo de me entregar. Não é sobre o medo de te perder, mas sobre o inverno que, de repente, se instala em mim, gelado e palpável, na incerteza de um amor em que se respira a fragilidade e a força do que vivemos. O medo, ah, esse velho conhecido, parece simplesmente vestir-se de outras cores, outras formas. Talvez seja o receio de perder a memória, essa camada leve que acobre minhas fantasias onipotentes, onde cada carinho seu se transforma em uma constelação brilhante e radiante. Às vezes, sinto que não é insegurança, mas um zelo profundo, um guardião carinhoso da preciosidade do afeto que devo a ti, um afeto único, quase sagrado, que brotou como um acaso entre as dobras do cotidiano. A sorte indescritível de ter esbarrado minha história na sua, como se o universo estive...